Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Edição 16

Prezados amigos (as)
Hoje estou mudando de residência. Deixo São Gabriel, às margens do Rio Congo e vou para a Comunidade D. Wittelbols, às margens do Rio Tshopo.
Será por três meses, enquanto meu colega mineiro estiver em férias no Brasil. Talvez demore um pouco para lhes ecrever agora.
Pode ser que a instalação de internet na nova comunidade leve algum tempo.
Um grande abraço a todos.

Que Deus vos abençoe. P. Osnildo

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Edição 15

Sou o 410º
Há seis meses estou em nossa missão do Congo, precisamente em Kisngani, que é o centro da missão dehoniana nesse país. Aqui o primeiro missionário scj, então P. Grison, francês, celebrou a primeira missa, justamente há 110 anos, dia 25 de dezembro de 1897. De lá até hoje para aqui vieram 410 missionários estrangeiros. Eu sou, portanto, o 410º dehoniano missionário no Congo. Aqui cheguei a 7 de março de 2007.

Uma história de sofrimento
A missão que P. Dehon tanto amava e pela qual lutou muito, sofreu ao longo de sua história, teve momentos difíceis: no início, as doenças ceifaram muitas vidas jovens de religiosos missionários, que para aqui vieram cheios de entusiasmo, para evangelizar esses povos. Outro momento difícil para essa missão foi o ano 1964, mais precisamente, o mês de novembro. Depois de sua independência, o Congo, então Zaire, conheceu momentos de muita convulsão social, de guerras e revoluções, foi, nessa oportunidade, quanto o ódio contra os estrangeiros e colonizadores era atiçado pela ganância e poder, que a missão perdeu 29 de seus religiosos, assassinados brutalmente pelos revolucionários simbas.
Depois desse momento trágico, a missão experimentou um período de muita instabilidade e sofrimento. Outro momento foi em 1973, quando Mobutu desencadeou o processo de “zairinização” do país, transformando o então Zaire num estado completamente laical, onde todos os sinais de religião foram banidos: as escolas católicas entregues aos leigos, os nomes cristãos do batismo foram trocados, os sinais de cristianismo banidos dos lugares públicos, etc. De 1991 a 2001, o povo e a Igreja do Congo sofreram muito também com os desmandos sociais e a violência: roubos, assaltos, agressões, prisões arbitrárias, seqüestro de bens dos religiosos, assassinatos, extorsões... e tudo isso culminou na guerra dos seis dias em 2001, quando dois povos estrangeiros, os Ruandese e os Ugandeses, que aqui vieram para ajudar a derrubar Mobutu, começaram a guerrear entre si pela posse da terra, trazendo o medo, a morte, a destruição, a fome, e miséria. Realmente esse povo é um povo sofrido! Como me dizem os garotos que se queixam da fome “O povo congolês sofre muito”.
Mas aos poucos, com o aumento das vocações autóctones, a missão foi se restabelecendo e agora passa por um momento relativamente bom, com um bom número de candidatos em seus seminários: propedêutico, filosófico e teológico. O número de membros é ainda pequeno. Ao todo somo 90 religiosos: 41 padres, 3 diáconos, 3 irmãos e 43 religiosos de votos temporários (estudantes de filosofia, teologia e estagiários).



Obras entregues
Depois do massacre de nossos religiosos, em 1964, o número de dehonianos não era mais suficiente para atender a todas as paróquias e obras que a Congregação tinha então. E o temor pelo futuro do país, sua instabilidade política e social impediam a chegada de novos missionários para substituir os que morreram e os que voltaram para as suas províncias. Por isso, várias paróquias foram entregues aos bispos ou a outras congregações. Muitas permanecem até hoje sem padres para o serviço pastoral e litúrgico.

Situação atual
Atualmente são só 13 comunidades: em Kisangani (6), Butembo(1), Basoko(1), Babonde(1), Ibambi(1), Mambasa(1), Kinshsa(2).
As primeiras atividades pastorais da Província Congolesa: paróquias (6), obras sociais(3), formação(3), escolas(2) e casa de retiros(1). Algumas dessas obras não são comunidades religiosas, mas são administradas pelos nossos religiosos.
Aqui em Kisangani está concentrado o maior número de comunidades, seis. A ação pastoral se desenvolve em diversos setores: 2 paróquias(Santa Marta e São Gabriel), 1 Centro de recuperação de deficientes físicos (Centro Simama); 2 casas para acolher meninos e meninas de rua (Obra de São Lourenço e da Bem-aventurada Bakita); 2 casas de formação: propedêutico (Casa Dom Wittebols) e escolasticado filosófico (Ecolasticado P. Dehon) e 1 casa de retiros (Centro Dom Grison).

Meu trabalho
Meu trabalho, por enquanto, é, justamente, no Centro Dom Grison. Trata-se de uma casa de acolhida e de retiros. Aliás muito procurada, não só para retiros e encontros de religiosos e religiosas, padres, leigos e movimentos, mas também para hospedagem de pessoas que passam por aqui, uma vez que cidade há poucos hotéis esses são muito caros. Muitos professores, que vêem dar cursos na Universidade de Kisangani, se hospedam aqui conosco, bem como muitos cursos de formação promovidos pela MONUC (Missão da Onu no Congo) são feitos em nossas dependências.


Dehonianos brasileiros em Kisangani
Não sou o único brasileiro dehoniano no Congo. Somos em quatro. Todos trabalhamos em Kisangani. P. Joaquim Tomba, mineiro, é superior propedêutico, P. Mateus Buss, catarinense, é superior do Escolasticado Pe. Dehon, P. Vilson Hobold, catarinense, é o superior da Província Congolesa dos Padres SCJ. E eu trabalho no Centro D. Grison e vivo na paróquia São Gabriel.


Uma opção feliz
A todos vocês, prezados leitores, devo confessar que estou contente com a opção que fiz, vindo para cá. Foi uma mudança radical em minha vida, mas não estou arrependido. Sei que, no momento, não tenho condições de fazer grandes coisas pelo povo, pois não conheço ainda a língua swahili, que é a língua local. Mas mesmo assim já tenho dado muitas palestras e pregado retiros, em francês. O que me realiza bastante. Os pedidos para cursos de formação, palestras e acompanhamento pessoal são muitos. Por isso, não estou ocioso. Tenho muito trabalho.


Realidade chocante
O que é difícil é aceitar a realidade social daqui. O Congo vive um momento muito difícil de sua história, após tantas guerras e revoluções. A pobreza, melhor, a miséria, em que vive grande parte da população choca a gente e nos deixa inquietos, pois diante da imensidade de problemas estamos de mãos vazias.

Concluindo
Rezem por nós missionários, para que nunca desanimemos diante de magnitude dos problemas existentes, sem perspectivas de uma solução imediata!
Que Deus abençoe a República Democrática do Congo e lhe dê dias melhores, com o trabalho e o esforço solidário de todos!

P. Osnildo Carlos Klann, scj
E-mail: ocklann@yahoo.com.br

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Edição 14

Curso de Introdução à Bíblia
P. Joaquim Tomba, bom mineiro, que é o diretor do curso propedêutico aqui em Kisangani, vai ao Brasil fazer suas férias, durante três meses, a partir de 1° de novembro próximo. Nosso superior provincial convidou-me para substituí-lo durante esses três meses. Portanto, a partir da ultima semana de outubro estarei mudando de residência, permanecendo sempre em Kisangani. Mas já comecei a dar para os propedeutas o curso de Introdução à Bíblia. Gosto muito desse trabalho. Principalmente por se tratar da Bíblia. Cada dia mais estou mergulhando na vida da província congolesa.

110 anos da paróquia de São Gabriel
Dia 30 de setembro foi feita a abertura dos festejos dos 110 anos de paróquia, aqui em Simisimi. O encerramento será no Natal desse ano, data em que, há 110 anos, P. Gabriel Grison celebrou a primeira missa aqui. Naturalmente os festejos não são como os dali. Essencialmente se resumem na celebração eucarística e alguma outra atividade, como desfile das diferentes pastorais e movimentos da paróquia.

Chuvas
O período das chuvas começou. Outubro e novembro são os meses mais chuvosos nessa região. Chove abundantemente. Imaginem o estado de nossas estradas agora! Não dá para correr mais que 10 ou 15 quilômetros por hora.; é um grande sacrifício chegar até o centro da cidade. Nesses casos, é melhor pegar a moto, quando não chove, naturalmente!

Cadernos, canetas e réguas...
Como escrevi anteriormente, comprei material escolar para uma centena de alunos, nossos conhecidos, com o dinheiro que me foi enviado para comemorar meu aniversário. Não podem imaginar agora o “sufoco” que passo para explicar que não tenho mais material escolar para distribuir. Eles insistem e quase brigam por uma régua, por um lápis, por uma caneta. Rondam continuamente meu escritório, esperando qualquer coisa, mesmo que seja papel para encapar cadernos!

P. Osnildo Carlos Klann, scj
Kisangani, 9 de outubro de 2007.

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