Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Escolasticado Padre Dehon - Kisangani

Com muito pesar comunicamos o trágico fato que se deu na Casa do Escolasticado Padre Dehon, em Kisangani, no Congo. A Casa Padre Dehon foi atacada por bandidos, na noite de 08 de novembro passado, para assaltá-la. Assim que os bandidos entraram no portão de entrada da Casa, depararam-se com a sentinela da Casa, o sr. Ngoma. Uma vez que ele se negou a dar as chaves da Casa e de um container que ali se encontrava, os bandidos começaram a ataca-lo, batendo com um ferro na sua cabeça, deixando-o semimorto. Depois de terem roubado alguns objetos, abandonaram o local. E então foi possível prestar socorro ao vigilante, Ngoma. Porém, ele não resistiu aos ferimentos e veio a falecer no dia seguinte.
Em consequência do falecimento de Ngoma, movidos por uma lógica estranha e própria da cultura local, os familiares e vizinhos de Ngoma, revoltados com o que lhe sucedeu, prometeram invadir o Escolasticado para roubá-lo e matar o Diretor da Casa, P. Mateus Buss. Porém, graças a Deus, o P. Mateus Buss foi alertado em tempo e conseguiu se refugiar na Casa do Escolasticado dos Combonianos, ali perto. Felizmente não passaram de ameaças e demonstrações de valentia.
Para acalmar os ânimos, os Padres Dehonianos negociaram com os familiares, pagando todas as despesas dos funerais.
Rezemos pelo descanso eterno do sr. Ngoma, que deu sua vida em fidelidade aos seu trabalho, protegendo os padres e estudantes do Escolasticado Padre Dehon!

domingo, 15 de agosto de 2010

Comunicado da Cúria Geral sobre Congo

Situação do noviciado de Butembo, Congo

Roma, 13 de agosto de 2010.

Após os dias de agitação o noviciado de Butembo volta à normalidade, pouco a pouco. Alguns fatos particulares agitaram a situação e tiraram a calma dos noviços. Após algumas reuniões nos dias 10 e 11 eles acabaram atendendo ao pedido do Superior provincial e voltaram ao noviciado, onde P. Osnildo estava febril.

Dia 11 o ministro do interior foi a Butembo e esteve com o prefeito da cidade e com o bispo diocesano. Falaram primeiro com os padres da paróquia de Kirago e depois com o P. Osnildo no noviciado. Constatada a precária situação de segurança do local, prometeram enviar militares para a área. A presença deles pode ser um tiro pela culatra pois pode atrair a presença dos bandidos. Nossos confrades da paróquia aceitaram voltar mas pediram ao Bispo um período de descanso em outro ambiente. P. Silvano Ruaro, da vizinha paróquia de Mambasa mostrou-se muito solidário e trouxe um caminhão de víveres necessários. Dia 13, dois confrades partiram de Kisangani e passarão alguns dias ali. Pensa-se em estabelecer uma ligação telefônica via satélite com Butembo que não possui este serviço.

A situação da segurança continua precária. É positivo que o ministro tenha se inteirado da situação. Esperamos medidas que venham a dar maior tranquilidade a toda população. Foi uma experiência dura para os noviços e uma ocasião para refletir sobre suas motivações vocacionais. P. Osnildo testemunhou as razões de sua opção missionária, com coragem e solidariedade em favor da população local, vítima da violência.

Agradecemos ao Bispo de Butembo por sua solicitude pastoral em favor de nossos confrades.

Acompanhamos estes fatos à luz da fé e os lemos como sinais da presença do evangelho num mundo que continua necessitado de anunciadores da paz, dispostos a arriscar a vida para desarmar a violência, em atitudes proféticas de reconciliação e solidariedade.

P. Rinaldo Paganelli, assessor de imprensa

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Nosso drama no CONGO

E o drama continua

Vivemos mesmo um clima de total intranquilidade e insegurança. Ontem,dia 8 de agosto, pelas 19h30m, quando estávamos terminando de jantar, um aviso de militares que fazem a guarda do quarteirão, nos comunicava que os Mai-Mai estavam de novo se posicionando para nos atacar.
Sem perda de tempo toda a comunidade dos noviços, mestre e os dois outros formadores, inclusive os militares que estavam cuidando de nossa casa, partimos em fuga para a cidade.

Passando pela Radio MOTO, dos assuncionistas, fiz um comunicando, dizendo de nossa fuga e em seguida fomos ao bispo diocesano, D Mesquisedeck. Contamos-lhe toda a nossa tragédia. Entrou imediatamente em contato com o comandante do exercito. Sem grandes garantias imediatas, pois o exercito aqui é bem pobre e nem viaturas possui para ir em socorro de emergência.
Do palácio do bispo, fomos ao convento das Irmâs Orantes que nos acolheram fraternalmente. Em pouco tempo arrumaram dormitórios para os noviços e quartos para nos. Passamos uma noite de pesadelos novamente.

De manhã, meus colegas da equipe de formação, comunicaram que iriam abandonar Kiragho imediatamente. Um voltaria para Kisangani; outro para Mambassa. Disse-lhes francamente que permaneceria no meu posto, mesmo se todos quiserem partir.
O dia estava muito triste. Inclusive em vez do sol, uma chuva que entristecia mais ainda nossas horas. Fui conversar com o bispo, falando de minha decisão.
Hoje à tarde, depois do almoço, vamos voltar à Kiragho e conversarei com os noviços. Tenho certeza que todos vão querer partir; ir para Kisangani.

De minha parte nâo vou me opor à decisão de cada um. Mesmo se todos os noviços quiserem também ir embora, eu fico, pois o Sr. bispo pede insistentemente que não abandonemos o local, e que hoje mesmo ele vai falar com o Ministro do Interior, para nos dar uma grande cobertura e proteção. O clima é tenso.

Tenho que aguentar a barra sozinho. A grande questão: os noviços que vão a Kisangani, deverão voltar para casa? ou a Província lhes dará um novo local para continuarem o noviciado desse ano? Vamos interromper o noviciado desse ano?.
Infelizmente a província não dispõe de local para abrigar essa grande turma. Que fazer?

Que o Senhor nos ilumine! D Melkisedeck vai visitar os noviços refugiados no conventos das irmãs, esta tarde. Aproveitei um momento de folga para lhes comunicar essa triste noticia! Peço que rezem! Vivemos um momento bem difícil!

P Osnildo Carlos Klann, mestre dos noviços.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Noite de terror


Tinhamos terminado de rezar a oraçâo da noite. 20h30m. 3 de agosto de 2010.


Quando iamos saindo da capela, três bandidos, bem armados, nos obrigaram a entrar de novo e começaram a tirar, em primeiro lugar, os telefones celulares ( dois somente, pois os noviços nâo têm celular) e mesmo algumas chaquetas. Ajuntaram todos os noviços perto do altar. A mim deixaram no banco atras. Ninguém podia falar. Eles falavam kinande e swahili. A um noviço que tinha algumas unidades ameaçaram com o punhal exigindo o telefone, que ele nâo tinha.


Sentado no banco de tràs, rezava o terço pedindo a Deus, à Virgem Maria e ao Padre Dehon que nos protegesse. Aconselhava os noviços a se manterem calmos e a rezarem.


Dirigiram-se a mim, e através de um intérprete,exigiram dinheiro. Conduziram-me ao meu quarto. Tive de abri-lo. Insistiam : « dinheiro, dinheiro.. » Eu dizia : « naô tenho mais. » Dei para eles o que ainda tinha na gaveta : 5 dolares e alguns francos congoleses. O chefe, olhou ; ficou furioso, jogou o dinheiro na minha cara, e com a espigarda no meu peito dizia : « um padre jà morreu porque nâo quis entregar o dinheiro ». Eu repetia : « nâo tenho mais nada. » Enquanto isso, dois outros bandidos revistavam meu quarto. Reviraram tudo. Eram ignorantes. Um pegou minha câmera fotografica, mas nâo sabia do que se tratava. Olhava curioso, guardou-a na sua sacola e mais tarde perguntou a um noviço que fazia as vezes de intérprete : quanto valia. Respondi que mais ou menos 300 dolares. Ficou contente. Guardou e levou para si. Sem os acessorios naturalmente. Enquanto isso, o chefe, ordenou-me que deitasse de costas para cima e colocsse os braços para tràs. Ali começou o suplicio, a tortura fisica. Com a corda que ele arrancou de uma cortina do quarto, amarrou-me fortemente. Eu gritava de dor. Os noviços que estavam presos na capela escutavam meus gritos. E cada vez ele apertava mais as cordas. Eu gritava. Os noviços pensavam : eles estâo matando o padre mestre ; depois eles vâo nos matar também. Finalmente terminou de apertar, pegou-me pelo colarinho e me levantou. Sempre com ameaça. « Nâo estou brincando. Quero dinheiro ». Repetia sempre a mesma coisa : « nâo tenho mais, nâo tenho mais ». Depois de saquear o quarto, levaram-me para a frente da capela. Ali soltaram um pouco as cordas. Que alivio ! Enquanto isso, eles pegavam dois ou três noviços e os levavam para os seus respectivos quartos, onde roubavam tudo o que podiam. Depois os trancavam em seus quartos. Assim até passarem os 26 noviços. Limparam o que podiam.

Depois de 2 horas de tormento, eles pediram o vinho de missa. TInha meitade de uma garrafa. Eles levaram.

Sairam da capela e me disseram : vai dormir.

Graças a Deus, eles nâo tentaram profanar o sacrario. Estava firmemente decidido a nâo permitir tal profanaçâo, mesmo sofrendo as ameaças de punhal e de espingarda.

Segundo os noviços o grupo era numerosissimo. Nossa casa estava rodeada de bandidos bem armados.

Nâo eram militares. Quando chegaram, imobilizaram o guarda noturno e perguntaram imediatamente se havia militares na casa.

Os noviços ficaram traumatizados. Mantive-me calmo durante todo o tempo, fazendo silenciosamente minhas preces.

Depois do assalto, reuni os noviços na capela para agradecer a Deus, à Virgem Maria e ao P Dehon a graça de nos preservarem com vida.

Com apenas um telefone conseguimos entrar em contato com Kisangani. Kisangani chamou as autoridades de Butembo. A resposta : estamos a caminho. Nâo chegaram até o dia seguinte. Somente dois militares, de moto, vieram aqui, às 8 horas da manha do dia seguinte, para fins de estatistica de assaltos.

Infelizmente essa é a nossa realidade : Butembo està nas mâos dos bandidos ! Vive-se aqui uma guerra cruel : o pobre povo, sem proteçâo, contra os marginais, os bandidos bem armados, e às vezes mesmo até contra os proprios militares.

A tempo : quando deixaram nossa casa, de noite, os assaltantes encontraram um pobre homem. Esse resistiu ao assalto. Eles o mataram.


Butembo, 4 de agosto de 2010


P Osnildo Carlos Klann, scj

Mestre de noviços

sábado, 31 de julho de 2010

Um pedido de ajuda...

Minhas amigas e meus amigos brasileiros

Saudades e saudações.

Peço desculpas por meu longo silêncio. Não escrevi, mas em compensação rezei e pensei muito em vocês todos. Principalmente na missa e na adoração diária que fazemos aqui. lhes expliquei o motivo de meu silêncio. Vivo uma nova realidade. Não temos energia elétrica. Não temos internet. Não temos boas estradas. Para ligação de internet devo ir à cidade, distante 12 quilômetros. Onde a estrada é boa, asfaltada, 12 quilômetros não significa muito. Mas para nos aqui é muito difícil, pois a estrada é péssima. E quando chove, nem é bom pensar. E aqui chove muito, muito mesmo. Pode-se dizer durante o ano todo.

Não me queixo de nossa casa. É bonita, boa. Sinto-me bem aqui. Mas o acesso é difícil. Para mim é um sacrifício ter de ir à cidade. Prefiro ficar na solidão desse noviciado.

Ultimamente, a violência está "grassando" em nossa cidade. A noite nem pensar em sair. Dizem que no centro da cidade, quando escurece, não se vê ninguém pelas ruas. Assaltos e assassinatos são frequentes. Hoje mesmo a cidade parou em protesto contra assassinato de um comerciante. Um congresso de jovens da província eclesiástica de Bukavu, que deveria se realizar de 11 a 16 de agosto próximo, em nossa cidade de Butembo, foi cancelado, por medo da violência reinante. Nossa casa paroquial foi assaltada e mataram dois membros atuantes da nossa paroquia, na mesma madrugada. A população vive na insegurança. Os militares em vez de proteger, eles mesmo são, muitas vezes, os agentes da violência, das mortes, dos roubos.

Apesar de tudo isso, continuo firme aqui. Estou contente. Tenho 26 noviços. Muita gente. Um trabalho difícil, principalmente, por causa da mentalidade africana, bem diferente da nossa. Dia 14 de julho próximo passado, fizeram os primeiros votos, os 6 primeiros noviços congoleses que preparei. Fiquei feliz.

Estou um pouco cansado, pois, dois anos que não faço férias. Espero ansiosamente a data de 28 de setembro quando vou partir ao Brasil para umas merecidas férias, junto de meus parentes e grandes amigos. Certamente terei a oportunidade de encontrá-los. Volto para dia 15 de dezembro.

Ouso, meus amigos e amigas, fazer-lhes um pedido de ajuda. Preciso de sua ajuda material para ir em socorro de alunos principalmente de faculdades e do primário que não têm condições de pagar seus estudos e merecem o apoio. E também, precisamos muito da ajuda dos benfeitores para a formação de nossos seminaristas, noviços e estudantes de filsofosia e de teologia. Nâo podem imaginar as dificuldades que enfrentamos, pois dos pais não se pode esperar nada. A congregação deve mantê-los em tudo : comida, roupa, viagens ( e as viagens aqui são caras e inseguras…), assistência médica etc. Mesmo as paroquias não ajudam nada ; a congregação deve sustentar as paroquias também. É a realidade das missões africanas.

Desculpem a ousadia desse pedido. Faço-o porque é para os outros. Tenho certeza que o que nos derem não fará falta a vocês.


Deus os abençoe!


Até bem logo!

P Osnildo Carlos Klann

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa em Butembo

Meus caros amigos e amigas do Brasil, após longo silêncio, novamente aqui estou com algumas rapidas noticias de Butembo. Quero de um modo todo especial saudá-los por ocasião das festas pascais.

O Mistério Pascal, é feito de trevas e luzes, de morte e ressurreição! Ele nos ensina que nossa vida é também um misto de claro-escuro, de alegria e sofrimento, de sucesso e de derrota, de prazer e de dor, de morte e de ressurreição. Como Cristo, saibamos subir o Calvário de nossos problemas e de nossas cruzes para poder gozar plenamente da glória da Ressurreição.

Certamente durante essa semana, refletimos bastante sobre o grande amor de Deus para conosco: Ele nos deu o seu próprio Filho, que livremente se entregou à morte para o nosso bem, para a nossa libertação.

Bem, eu não escrevo mais frequentemente porque onde moro não temos internet, nem corrente elétrica. Apenas 3 horas e meia de luz, à noite. Fica muito caro instalar internet. Fizemos já um pedido, um projeto, mas nenhuma resposta por enquanto.

Já lhes informei também que moramos a 12 quilômetros do centro da cidade de Butembo, com acesso difícil, principalmente quando chove. E aqui chove constantemente. Para terem uma idéia, desde que estou aqui, há sete meses, somente uma vez aconteceu de termos 4 dias seguidos de sol. E chove regularmente e abundantemente. E faz frio. Estamos a 1700 metros de altitude, bem embaixo do equador.

Minha missão, graças a Deus, vai bem. Estou contente. Estou fazendo o que gosto de fazer: conferências sobre a vida religiosa, sobre a Igreja, sobre a nossa Congregação e sobre o nosso Fundador. Por enquanto estou sozinho nesse trabalho intelectual. Depois da Páscoa virá um auxiliar, o P. João Cláudio. Infelizmente, o jovem sacerdote, P. Alain, que veio em novembro, ficou pouco tempo aqui e foi embora.

A cidade de Butembo é muito próspera, com contrastes terríveis entre a riqueza e a pobreza. É chocante ver como vive a grande maioria de nossos irmãos e irmãs de Butembo. O que me faz sofrer muito é a condição das mulheres daqui: elas trabalham muito e pesadamente; Elas estão na roça, no mercado, no transporte de mercadoria, nas costas, na cabeça etc. Além disso, têm a responsabilidade da criação de uma infinidade de filhos e filhas.

Sob o ponto de vista da religião, a Igreja católica está relativamente bem, nessa cidade. O clero diocesano é numeroso. Inclusive envia missionários para outros paises da África e mesmo da Europa ( Italia, principalmente). O número de congregações religiosas, masculinas e femininas, é muito grande. São 11 noviciados nessa cidade, além de alguns postulantados e cursos propedêuticos, para os aspirantes à vida religiosa. A Congregação mais numerosa é a Congregação dos Assuncionistas, do Padre D’Alzon. Eles aqui vieram em 1929, substituir a nossa Congregação SCJ, que iniciou a evangelização dessa região em 1906.

Em outubro de 2010 estarei de novo no Brasil, para um periodo de férias. Então poderemos falar e conversar mais sobre minha vida aqui.

O local e a casa onde moramos é fantástico. Muito bonito. Montanhas, pastagens, criação de gado, ovelhas etc. Mas o difícil é o acesso a esse local. Sempre digo que moramos no paraíso, mas para chegar aqui é preciso passar pelo inferno das estradas. Além disso, há o perigo de grupos armados que ainda rondam por aqui. Não saímos à noite. Quando escurece, todo mundo fica em casa. A liturgia, as celebrações na igreja são sempre durante o dia.

Mais um vez, eu desejo a todos uma Feliz Páscoa! Que Jesus ressuscitado seja nossa alegria, nossa força, nossa vida! Pois Ele é o nosso caminho, nossa verdade e nossa vida!

P. Osnildo Carlos Kl.ann.

Portal DEHON Brasil

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