Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Edição 17

Casa São Lourenço

Meus amigos(as),

Finalmente consigo novamente enviar-lhes algumas informações a mais sobre nossa atividade aqui em Kisangani, também algumas fotos da Casa Sâo Lourenço(1 ) e da Casa Sta Bakhita (2). A terceira foto é do grupo de seminaristas com quem trabalho.


Nesse ano de 2007, a Província Congolesa dos Padres SCJ festeja 110 anos de presença na Província Oriental (Estado Oriental) da Republica Democrática do Congo, cuja capital é Kisangani.
Num artigo anterior, já lhes informei sobre a historia dessa evangelização, lembrando os momentos de crescimento e os periodos de dificuldades ingentes, por causa de guerras, revoluções e perseguições.
Atualmente, a presença dehoniana aqui está reduzida em relação a alguns anos atrás. Mas mesmo assim nossos religiosos marcam presença com obras de alto teor social.
Hoje e nos próximos artigos, vou apresentar-lhes a historia dessas obras. Começo com a Casa São Lourenço.

1.1. No inicio, eram os prisioneiros
Em 1989, a Congregação dos Padres SCJ, no Congo, iniciou uma atividade social, em Kisangani, em favor dos presos. A comunidade São Lourenço, constituída pelos padres Giovanni Pross,scj, e Giovanni Lamieri,scj, acolhia os prisioneiros postos em liberdade, aguardando sua volta para o interior, de onde tinham vindo, ou esperando conseguir algum emprego na cidade. Na Casa São Lourenço, esses ex-detentos encontravam alojamento, comida, alguma atividade e ajuda para a viagem de volta.

1.2. Mais tarde, eram jovens abandonados
Mas a casa era grande e os ex-detentos, poucos. Sobrava espaço. E os jovens abandonados pelas ruas da cidade eram muitos. O Estado nâo conseguia dar-lhes a assistência necessária. Em parceria, então, com o « Departamento estadual de guarda e educação » dos jovens, a Casa São Lourenço começou a receber também os jovens abandonados. Isso em 1991.
No projeto de reeducação desses jovens constava : alfabetização, trabalho manual, esporte, agricultura, (a Casa Sâo Lourenço comprou um campo para essa atividade), padaria (os jovens fabricavam o pão e o vendiam na cidade), marcenaria (produziam principalmente, caixões de defunto).

1.3. A decepção
Apesar de todo o esforço para a reeducação desses jovens, os formadores experimentaram uma grande decepção por ocasião dos saques ocorridos em setembro de 1991, na cidade de Kisangani. Alguns jovens da Casa São Lourenço participaram dessas ações violentas e com o fruto dos saques fugiram. Outros foram presos.

1.4. A reflexão
Os jovens que foram acolhidos na Casa São Lourenço, eram já viciados. Os resultados de sua recuperação eram desproporcionais ao esforço e aos gastos materiais, espirituais e psicológicos havidos. Em vez de corrigir, pensou-se, então, em prevenir o mal, acolhendo os menores abandonados. Começou-se o trabalho com 12 menores de 8 a 11 anos. No inicio, eles freqüentavam a Casa São Lourenço, durante o dia. Comiam, tinham sua ocupação, seu divertimento, seu trabalho. As atividades que faziam eram as mesmas do período anterior: alfabetização, pão, caixão de defunto, agricultura. A noite, iam para casa.. Mas, a pedido, dos próprios menores, a partir de determinado momento, eles começaram também a dormir na casa. Estamos no ano 1992.

1.5. Uma nova etapa
Em 1998, a Casa São Lourenço assina um contrato com o CICR ( Comitê internacional da Cruz Vermelha), para acolher também os “filhos desacompanhados” (são os jovens e crianças que se separaram de seus pais durante a guerra e que não os tinham encontrado ainda) e “os meninos-soldados” (treinados para a guerra). Para atender a esses novos desafios, foi necessário, buscar novas dependências. A generosidade de um muçulmano colocou à disposição da obra um pavilhão no centro da cidade. Essa iniciativa continua até hoje com os filhos desacompanhados. Além do espaço físico, foi necessário aumentar também o numero de educadores e formadores especializados para atender a esses jovens.

1.6. Feiticeiros
Um novo problema vem à tona : o fenômeno dos rapazes acusados de feitiçaria. Esses também, abandonados pelas suas famílias, vagavam pelas ruas da cidade. Marginalizados pela sociedade eram desprezados e temidos por todos. A Casa São Lourenço abriu suas portas também para eles.

1.7 A Casa Santa Bakhita
Não só rapazes vagavam pelas ruas de Kisangani. Meninas também viviam na rua, a maioria acusada de feitiçaria também. Para acolher essas meninas abandonadas, a Casa São Lourenço abre uma filial com o nome da santa africana : Bakhita. Para essas meninas, foi alugado um pavilhão no centro da cidade. Isso em 2002.

1.8. Novas construções
O numero de internos e internas aumentava cada vez mais. As antigas dependências ficaram pequenas. Era preciso também procurar outros lugares para essa obra, pois onde estava atualmente, no centro da cidade, nâo funcionava bem.
Com o apoio da Congregação dos Padres SCJ, de amigos benfeitores, principalmente de uma senhora de Volano, Itália, com a ajuda de pessoas ligadas à MONUC (Missão da ONU o Congo), com a substancial colaboração financeira da Embaixada Alemã, em Kinshasa, foram construídas duas casas: uma para os rapazes outra para as meninas, num local apropriado, fora do centro da cidade.
A casa para os rapazes ficou pronta em 2005, e a casa para as meninas foi inaugurada, no dia 11 de março de 2006.
Atualmente as duas casas acolhem 130 moços, moças e crianças. Diretor: P. Giovanni Prost,scj, e vice-diretor: P. Alphonse Yema,scj.

1.9. Manutenção
92% das despesas de manutenção da casa provém de benfeitores. 8% é a parcela de colaboração da própria casa. Os benfeitores estrangeiros são da Itália, da Alemanha (Província alemã da Congregação SCJ), principalmente IPIBIMI (organização italiana de ajuda) e também organismos internacionais que atuam no Congo : PAM (Programa alimentar mundial), CICR ( Comitê internacional da Cruz Vermelha), Caritas, MSF (Médicos sem fronteiras) , FAO, UNICEF e MONUC (Missão da ONU no Congo).

1.10 Ajuda à prisão central de Kisangani
Há muitos anos já, a Casa São Lourenço , em nome da Cáritas, leva três vezes por semana, comida para os prisioneiros. Recorde-se que aqui o Estado não dá comida aos detentos. As entidades caritativas e os próprios parentes dos encarcerados devem fazê-lo.

Conclusâo
A casa Sâo Lourenço tem uma historia de bons frutos. Devido à limitaçâo humana nem tudo o que é preciso fazer se consegue realizar, mas se faz aquilo que se pode fazer. Em seu discurso na inauguraçâo da Casa Santa Bakhita, o diretor, P. Giovanni Prost, afirmava : « Digo, muitas vezes, aos educadores que 60% de nosso serviço no campo da educaçâo vem do coraçâo. A preparaçâo profissional é muito importante, mas nâo pode substituir ,de forma nenhuma, o trabalho do coraçâo. O amor e somente o amor consegue preencher o vazio causado pela falta de amor ».
Esse amor, que aproxima as pessoas, que cura as feridas de seus coraçôes e realiza milagres, anima todos aqueles que se dedicam a essa obra de promoçâo humana : Sâo Lourenço e Santa Bakhita.


Kisangani, 15 de novembro de 2007


P. Osnildo Carlos Klann, scj

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