Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Edição 11

Desabafo numa tarde de domingo

Kisangani já está entrando em minha vida. Não me assustam mais os sacolejos de nosso duro carro, caindo nos inúmeros buracos de nossas estradas e avenidas. Não me causam mais estupefação os inúmeros pequenos negócios ao longo dos caminhos, onde os produtos são expostos, em cima de toalhas ou plásticos, no chão, sujeitos ao sol e à poeira. Ou em cima de mesas improvisadas de bambu. Não me perturbam mais as oficinas de bicicletas e as sapatarias debaixo de árvores ; cabeleleiros em minúsculas cabanas ; produtos alimentícios misturados com poças d’água ; peixes secos e defumados cobertos de moscas ; bambus oferecidos como material de construção : bicicletas servindo de táxi ; casas caindo aos pedaços, mas ainda usadas por famílias ; capim crescendo em cima de telhado ; hospitais sem nenhum asseio, abandonados pelo poder público.

Acostumei-me aos inúmeros pedintes que batem à nossa porta, mendigando alguns trocados. Não me espanto mais com o número incalculável de homens e jovens, sentados à frente de suas casas, esperando, sem esperanças, o tempo passar. São apenas alguns dos quase 90 % de desempregados dessa cidade. Não me impressiona mais ver cemitérios ao lado da estrada, com túmulos cobertos de capim. Já me acostumei a ver mulheres carregando em cima da cabeça ou nas costas pesados fardos, bicicletas transportando mercadorias : aipim, bambus, lenha, carvão…
A cidade está entrando em mim. Mas não arranca do meu coração essa santa indignação de ver irmãos e irmãs, sofrendo tanto ; jovens e adultos, crianças e velhos, batendo na barriga vazia e pedindo dinheiro ou comida para satisfazer essa primária necessidade humana. Esses fatos diários revoltam a gente contra os fazedores das injustiças do mundo, contra os praticantes inveterados do desperdício e contra os promotores de guerras, onde o pão da vida dos pobres é transformado em bombas e metralhadoras de morte!
Quando virá, Senhor, o dia em que todas as famílias terão habitação decente , comida suficiente, saúde garantida, educação elevada?!

Vem, Senhor Jesus, renova esse mundo, com nossa ajuda e colaboração !


Pe Osnildo Klan, do Congo

Edição 10

A todos vocês, paz e bem!
Tenho algumas notícias para vocês sobre nossa vida aqui:
1° O antigo noviciado e postulado, anexos do Centro D. Grison, está sendo destruído. Em seu lugar vai erguer-se uma nova ala de nosso Centro.
2° Para a nova construçâo, nova caixa d'agua. Penso que agora não vamos mais ter falta d'água. O novo reservatório de 20 metros cúbicos está pronto; a canalização está sendo feita, sob a orientação do provincial, P. Vilson, que já construiu muitas obras aqui no Congo. Nossa propriedade aqui em SIMISIMI tem muitas fontes. Há água em abundância. O problema sempre foi a canalização e a falta de energia para conduzir o líquido até nossas torneiras.
3° Escrevi-lhes, tempos atrás que o Centro DOM GRISON recebe muitos hospedes. Não só para retiros, mas visitantes, religiosos e leigos; é também uma espécie de um hotel. Semana passada, hospedamos o vice-ministro da Adminsitração Pública da República Democrática do Congo. Passou uma semana aqui se preprando para seu casamento, que aconteceu ontém, na catedral de Kisangani, sob as bênçãos do arcebispo, D. Monsengwo.
4° Coisas simples, às vezes enchem de alegria nossa vida. Foi o que aconteceu comigo, dia 24 deste mês. Dando meu passeio pela "cité" (bairro), em determinado lugar, um garotinho saiu ao meu encontro, com os braços abertos e abraçou minhas pernas, pois tem apenas dois anos de idade. Eu o acolhi carinhosamente e com alegria. Seu pai me disse que ele gostava muito de mim. E qual não foi minha surpresa quando ele, em certo momento, pronunciou bem claramente meu nome : Osnildo. Fiquei encantado! Prometi-lhe tirar uma fotografia dele. Hoje, passando de carro pela mesma rua ele me reconheceu e veio a meu encontro, pedindo a fotografia. Como não tinha levado a máquina, voltei em casa, e fui lá dar aquela alegria a Lucien, o pequeno garoto, que sem eu saber, gostava de mim.

Minha bênção a todos. P. Osnildo

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Edição 09

Hoje, prezados(as) amigos(as), envio-lhes um resumo da corajosa declaração dos bispos congoloses a respeito da situação atual do país, que é muito instavel.
O país atravessa um momento bastante delicado, com grandes esperanças do povo, mas com a ameaça de total frustração se as promessas feitas não se concretizarem durante esse novo governo democrático. A todos vocês minha carinhosa saudação. Um abraço bem brasileiro. P. Osnildo


Voz profética dos bispos congoleses

Em sua 43a. assembléia geral desse ano, de 3 a 7 de julho, os bispos congoleses emitiram um documento « Vinho novo em odres novos », onde exprimem, com clareza,suas preocupaçôes em relaçâo ao futuro do pais e fazem veementes apelos aos atuais governantes no sentido de cumprirem o prometido nas ultimas eleiçôes, pois o povo està esperando ansiosamente a concretizaçâo dos projetos de crescimento do pais propostos, antes das eleiôes.

As preocupaçôes
Entre as preocupaçôes ,os bispos assinalam a persistência dos anti-valores que corroem a sociedade congolesa. « Nenhum pais se constroi desprezando os valores morais »(n. 9). Outra preocupaçâo : a crescente insegurança : a situaçâo atual do pais é ainda muito insegura : roubos, assaltos, prisôes arbitràrias, taxas e pedàgios excessivos sem retorno em termos de beneficio para o povo ; a crescente tensâo social provocada pela proxima exploraçâo do petroleo no Lago Alberto, em Ituri. A populaçâo nâo terà nenhum beneficio com essa exploraçâo.Tudo irà cair nas mâos de estrangeiros e invasores. Os bispos alertam ainda para o fato que as riquezas naturais do pais, como os minerais, as florestas, o petroleo em vez de contribuirem para o desenvolvimento do pais e o bem dos cidadâos, sâo causas de sua desgraça, pela ganância dos exploradores estrangeiros. E preciso rever contratos mal feitos que comprometem a soberania nacional e roubam aos trabalhadores congoleses seus direitos e sua dignidade.
Outro fato grave que preocupa os bispos sâo os assassinatos de jornalistas e de outros cidadâos ; violências essas que ficam em geral impunes.
Os bispos lembram ainda a situaçâo dos jovens, dos marginalisados e dos menores de rua. Muitos nâo vâo à escola porque nâo têm condiçôes financeiras e porque sâo obrigados a ajudar a economia familiar, trabalhando em màs condiçôes, sacrificando sua saude e sua dignidade. Os bispos apelam ao governo para que tome providências urgentes, visando socorrer as « crianças da rua e os ‘ feiticeiros ‘ que sâo uma bomba de efeito futuro, se a sociedade deles se esquecer hoje » (n. 14).
O pais vive um momento dificil, depois de vàrias guerras, que destruiram toda a infraestrutura. Principalmente, a rede rodoviària e ferroviària està em estado de miséria, para nâo dizer que realmente nâo existe mais, em muitas regiôes do pais. A saude està em coma. Os hospitais e os postos de saude nâo oferecem as minimas condiçôes de higiene e de atendimento à populaçâo.

Os apelos
Diante de tudo isso, os bispos fazem veemente apelo às autoridades constituidas no sentido que ponham em pràtica as promessas feitas antes das eleiçôes. O Congo tem que decolar, sair dessa situaçâo de marasmo e estagnaçâo. Mas, antes de tudo, é preciso restabelecer na sociedade os valores éticos, mudar a mentalidade, banir a corrupçâo e a impunidade. Para isso, mister se faz mudar a mentalidade, coisa dificil que deve passar por uma « boa educaçâo aos valores na familia, na escola, nos meios de comunicaçâo social e num ambiente moralmente sadio »( 17). Segundo os bispos , o Congo deve reconquistar sua independência, para se libertar do neo-colonialismo, que tenta controlar o poder, explorar os recursos minerais, florestais, fluviais e lacustres em prejuizo do povo congolês. Ainda na opiniâo dos bispos, um trabalho de descentralizaçâo, bem feito, pode ajudar o esforço de progresso e desenvolvimento da naçâo.
O desenvolimento desejado para o Congo deve ser solidàrio: todo povo tem direito de sentar-se à mesa do banquete e nâo ficar catando as migalhas que dali caem, como o pobre Làzaro.
Concluindo, os bispos fazem apelo a diversos segmentos da sociedade :

Ao governo
Ao governo, para que tenha a coragem politica e nâo tenha medo de enfrentar as ameaças de contratos mal feitos, de expoliaçâo do patrimonio publico, do desvio do dinheiro publico, de assassinatos, de atentados contra a integridade territorial e da soberania naconal. Pedem os bispos que o governo divulgue os resultados dos procesos sobre o massacre do Baixo Congo, do conflito de fronteira, em Kahemba e do incendio de Mbandaka ; que reforce as fronteiras nacionais para repelir prontamente invasôes.
Mister se faz colocar ordem no setor mineiro e florestal. As riquezas do pais devem ficar no pais; que os exploradores das riquezas naturais, criem industrias de transformaçâo dos produtos brutos, no pais.
Antes de aceitar novos investimentos no pais, é preciso rever os contratos mal feitos, no passado.

Ao povo
Ao povo, os bispos pedem que diga nâo à mentalidade assistencialista. O povo deve assumir a responsabilidade de seu proprio progresso e desenvolvimento. Todos devem assumir sua parte nesse desenvolvimento. E preciso assumir uma cultura do trabalho bem feito, sâo e perseverante: é preciso “banir a mentalidade do menor esforço, da mendicância e da ociosidade que se instala cada vez mais na mentalidade” do povo (n.24). Com o trabalho duro e com o suor de proprio rosto, se constroi o pais. Exortam os bispos ainda os concidadâos à pràtica dos valores como: o rigor intelectual, o amor ao trabalho manual,o pagamento dos impostos, o espirito de ordem e de disciplina, o sentido de limpesa, o respeito e a proteçâo do bem comum. (cf n. 24).

A comunidade internacional
A comunidade internacional, os bispos pedem, como jà o fez Joâo Paulo II e Bento XVI, o perdâo imediato, total e incondicional da divida externa. Pedem também que os paises ricos redusam a venda de armas, combatam o tràfico ilegal de matéria prima preciosa e a fuga de capital dos paises pobres, ajudando assim no combate à corrupçâo e à lavagem de dinheiro. (n.25)

A Monuc (Missâo da ONU no Congo)
A MONUC, os bispos solicitam que dê à populaçâo uma proteçâo efetiva. Caso contràrio, o povo começarà a duvidar da eficiência e da oportunidade de sua presença no pais.Concluindo, os bispos escrevem : «A crise de nosso pais é antes de tudo ética. O pais tem necessidade urgente de homens novos e integros. Uma mudança radical no comportamento pessoal, social e politico poderà trazer novo jeito de gerir a Republica. O novo Congo serà fundado sobre valores republicanos, morais da vida social, e sobre os valores evangélicos » (27).

sábado, 11 de agosto de 2007

Edição 08

Hoje, não envio crônica, mas apenas uma mensagem de felicitações a todos os pais do círculo de minha amizade e de meu parentesco.
No Brasil a data desse domingo é dedicada aos pais, como justa homenagem a seus esforços, lutas, sacrifícios na busca do bem-estar e felicidade de sua família. Sei que isso não é coisa fácil, num momento como esse que vivemos, onde os anti-valores se sobrepõem aos mais autênticos valores humanos e cristãos; onde os valores familiares não são mais aceitos pela sociedade, mas pelo contrário, os valores da sociedade paganizada são impostos às familias, pela força dos meios de comunicação social.
Parabenizo a você, pai, que não se deixa levar pelo vento da moda do momento, mas continua fiel aos princípios que orientam o comportamento humano e cristão!
Parabenizo você, porque não esmorece em seu empenho de construir um mundo melhor, com mais justiça e solidariedade, a começar pelo próprio lar!
Parabenizo você, porque mantém acesa a chama da esperança de que o mal não predominarà em nossa sociedade, mas que a vitória é de Cristo!
Parebenizo você, que acredita que a a vitória que vence o mundo é a nossa fé.
Parabenizo você, pai, que procura semear o amor em seu caminho, deixando atrás de si um rastro luminoso de vida e de bênçãos! Parabenizo você, que aceitou a missão de pai e procura realizá-la a exemplo de José de Nazaré.
Parabenizo você que, apesar das inúmeras dificuldades que tenha de enfrentar, sabe conservar a calma e a esperança, mantendo no lar o clima de fraternidade, de amor e de paz.
Parabenizo você simplesmente porque você é pai. E esse é um titulo de muita honra.
Que Deus o abençôe! P. Osnildo

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