Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Edição 13

70 anos
Nessa semana, festejei 70 anos de vida. Vida bastante longa já. Desses 70 anos, 50 foram vividos como religioso e 43 como sacerdote. Olhando do alto desses 70 anos, só tenho que agradecer a Deus por ter chegado onde cheguei, com saúde e muita disposição ainda para trabalhar.Olhando do alto desses 70 anos, vejo a mão de Deus me amparando na subida, principalmente, nos momentos mais difíceis.Olhando do alto desses 70 anos, contemplo o carinho e a ternura de Jesus, puxando-me pela mão, levantando-me nas caídas, enxugando minhas lágrimas nos momentos de tristeza, sorrindo comigo, nas horas de alegria e curando minhas feridas, quando o mal do pecado fez sangrar meu coração. Do alto desses 70 anos, sinto a presença materna de Maria, pela qual nutro uma profunda devoção, feita de tentativas constantes de seguir seu exemplo de escuta da palavra de Deus e de inteira oblação à vontade do Pai.
Olhando do alto desses 70 anos, contemplo minha família,meus pais, jà falecidos, meu irmão, minhas irmãs, meus cunhados e cunhada, meus sobrinhos e sobrinhas, todos meus parentes como um maravilhoso presente que Deus me concedeu. Senti e sinto ainda, em minha caminhada, a sua presença encorajadora e seu estimulo fraterno. Do alto desses 70 anos, contemplo com imorredoura gratidão e amor, minha Congregação, minha província, meus confrades, meus ex-alunos e ex-noviços. A eles devo muito, pois sem a sua colaboração e seu apoio hoje não estaria aqui, tentando viver, às margens do Rio Congo, na missão que P. Dehon tanto estimava, o ideal reparador e oblativo de nossa Congregação. Do alto desses 70 anos, contemplo as grandes chances que tive na vida, proporcionadas pelos meus superiores e amigos. Mereci, por bondade deles e dos confrades, a confiança de cargos importantes, dentro da Congregação e da Província. A experiência do exercício da autoridade me ensinou que é muito mais fácil e melhor obedecer que mandar.
Do alto desses 70 anos, contemplo o numero incalculável de leigos e leigas, de amigos e amigas, que durante esses anos todos acompanharam minha trajetória de religioso e sacerdote. Lembro com emoção e gratidão, a atenção e o carinho que eles sempre me dedicaram e me dedicam ainda, sendo isso para mim uma força enorme em minha caminhada não tão fácil. A eles devo, sem duvida, grande parte de minha fidelidade ao ideal abraçado.Olhando do alto desses 70 anos, contemplo a enorme multidão de crianças e jovens que passaram pela minha vida e aos quais dediquei minhas forças e minhas energias.
Em minhas anotações no retiro de preparação à ordenação sacerdotal , pedia ao Senhor que me desse um grande amor e carinho para com as crianças e adolescentes. Os mesmos sentimentos que Ele, quando por aqui passou, alimentava por eles.
Estou vivendo agora aqui, no seio da mata congolesa, de modo muito especial, essa graça que pedi ao Senhor, há 43 anos. Sinto por eles e elas um amor muito grande e uma compaixão muito profunda pela situação de miséria que vivem! Minha angustia é imensa, pois não posso fazer muita coisa por eles. Sinto-me de mãos vazias. Os problemas são bem maiores que minhas condições de resolvê-los. Procuro fazer o que posso, em minha infinita limitação.Do alto desses 70 anos, revejo os dias de tempestade de minha vida. Não foram poucos. Mas no meio das tribulações, a presença do Espírito me dava forças para sobreviver às borrascas das tentações e do pecado.
Um dia, muitos anos atrás, recebi de um confrade já falecido, uma carta, onde ele me escrevia: “os problemas e dificuldades que passamos não devem ser degraus para descer, mas degraus para se subir na vida”. Essa rica filosofia me acompanhou e me acompanha sempre. Mister se faz saber aproveitar os revezes e os problemas para crescer, para se realizar. Do alto desses 70 anos, revejo os momentos de decepção de minha vida; revejo as poucas pessoas que me fizeram mal, que não me amaram, certamente, por culpa minha. A todas elas, com muita humildade e caridade digo que perdoou tudo, que não trago comigo nenhum ressentimento, nenhuma mágoa, que só lhes desejo paz e felicidade!
Do alto desses 70 anos, invoco a presença de todos aqueles que, ao longo de minha vida, os tenho ofendido, magoado, machucado, certamente sem querer, mas por fragilidade humana. Não sei se são poucos ou muitos, mas a todos eles quero pedir humildemente perdão. Do alto desses 70 anos, solto um forte grito que reboe por todas as montanhas deste mundo: ”Minh’alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus meu Salvador, porque fez em mim grandes coisas. Santo é seu nome”. ( cf. Lc1, 46-50).
E quero dizer a todo mundo “Pela graça de Deus, sou o que sou”(1Cor 115,10).

Obrigado, Senhor!

Kisangani, 28 de setembro de 2007.
P. Osnildo Carlos Klann, scj

A festa de meu aniversário
Recebi de três amigos e benfeitores de São Paulo certa quantia de dinheiro para celebrar com meus amigos da paróquia meu aniversário. Inicialmente, pensei em lhes oferecer um almoço bem farto, pois eles passam muita fome. Depois, refletindo melhor e conversando com meus colegas, decidi dar-lhes, em primeiro lugar, o material escolar de que precisam, agora no começo do ano letivo, aqui no Congo. Constantemente recebia o pedido de caderno, caneta, lápis, borracha, papel para encapar os livros etc. Parte do dinheiro, pois apliquei na compra desse material para 120 estudantes.
Eram os nossos coroinhas e os filhos de nossos funcionários. Além disso, patrocinei, como celebração de meus setenta anos, o Dia da Amizade, celebrado em nossa paróquia, duas semanas atrás. Além de retiro, palestras, missa, o Dia da amizade ofereceu também a diversão de um passeio de caminhão até nosso escolasticado, a 16 quilômetros daqui. Participaram mais de 300 jovens e crianças. Para celebrar meu aniversário, cobri as despesas com o caminhão e a bebida que foi oferecida a todos os participantes do passeio. A generosidade de meus amigos foi grande e pude ainda, dentro das comemorações de aniversário, comprar um jogo de camisa de futebol para os funcionários do Centro D. Grison, e patrocinar um jogo amistoso entre nossos funcionários e os professores do Liceu Anuarite, das Irmãs Canossianas. Depois do jogo – que perdemos nos pênaltis, depois do empate de 0 X 0, - um frugal coquetel com bebida, amendoim e banana frita para os jogadores.
Em nossa comunidade religiosa, também foi festejada a data com um jantar, no pátio de nossa casa, à luz brilhante da lua cheia daquela noite. Poucas pessoas estavam presentes, pois vou comemorar mesmo o aniversário com todos os religiosos dehonianos de Kisangani, sábado, no esolasticado, juntamente com os 50 anos de vida religiosa do Ir. Renato, que trabalha aqui no Congo já há mais de trinta anos. Um momento importante de meu aniversário: pela primeira vez, celebrei missa, em nossa paróquia, em swahili. Suei bastante, mas me sai otimamente bem, segundo os comentários. Mas o sermão foi ainda em francês. Deo gratias!
Aos benfeitores que me ajudaram a proporcionar a meus amigos daqui a alegria de uma festa simples e da aquisição de material escolar, meus sinceros agradecimentos. Deus lhes pague em dobro.
A todos que me enviaram mensagem de felicitação pelo aniversário, meus agradecimentos!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Edição 12



Meus amigos (as) , hoje vou lhes mandar apenas algumas notícias daqui. Isso para manter nosso elo de comunicação. Uma reportagem que preparei sobre os Tutsis vou enviar na próxima vez.

Guerra
Graças a Deus a guerra na região leste do Congo terminou. Como lhes escrevi, numa reportagem anterior, comentando as denuncias do Bispo de Bukavu, D. Francisco Xavier, “A situação politica no Leste congolês não está clara. Vive-se a psicose de guerra ». De fato, semana passada, a guerra estourou naquela região, mais precisamente em Massissi, Goma.. Uma população inteira teve de se refugiar na mata, enquanto o exército congolês e os revolucionários (ruandeses et banyamulenge : pronuncia-se « banhamulengue », isto é, os descendentes de congoleses(as) com ruandeses(as), que habitam a região) trocavam tiros. Os soldados da ONU se colocaram entre as duas partes e evitaram o alastramento da guerra. As partes chegaram a um acordo, creio, muito frágil. O leste congolês, a região dos grandes lagos, é muito cobiçada por suas riquezas naturais e pelo petróleo. As grandes nações também « estão de olho » nesta região. Dizem que querem internacionalizar o Congo, como se falou da região de nosso Amazonas.
A gente nunca sabe até quando essa paz vai durar. Quero ver quando a ONU sair do Congo !!! Os ruandeses, especialmente, os tutsis, estão muito interessados em se apoderar não do leste, mas de todo o Congo. Por incrível que pareça o chefe dos revolucionários que provocou a guerra dias atrás, è um ruandês, que vive naquele pais, e tem livre acesso ao Congo, onde lhe prestam honras militares e o chamam de « chefe ». Soube também que o vice-presidente do Congo é um ruandês (tutsi) naturalizado. Assim se confirma cada vez mais o poder de penetração e de conquista que têm os tutsis. Eles são inteligentes ; sabem o que querem, estabelecem metas claras e as perseguem, com perseverança.
Havia a preocupação de que a guerra pudesse se estender para outras regiôes e até mesmo Kisangani, pois a distância não é grande : são apenas 600 quilômetros que nos separam do centro das discórdias. Graças a Deus tudo terminou rapidamente e os disturbios se confinaram àquela região. Diga-se de passagem que não existem estradas de para . avião. Ou pelo mato.

Jornada da amizade
A paroquia S . Gabriel programou uma Jornada da Amizade, esta semana, com muitas atividades. Domingo, dia 9, houve um passeio com crianças e jovens ao Escolasticado P. Dehon, a 16 quilômetros daqui. Esperava-se umas 200 pessoas. Vieram umas 300. Viagem em caminhão.O caminhão deveria partir daqui às 9horas. Chegou às 10h. Três viagens. Imaginem quanta gente no caminhão!! A ultima foi depois do meio dia. Pediu-se que cada um(a) levasse seu lanche. A paroquia daria o refrigerante. Apenas pouquíssimas pessoas levaram algo para comer. As outras passaram o dia sem comer. o refrigerante. Aqui é assim! Passam o dia em jejum. Vão comer um pouco à noite, quando têm comida.
não me deixaram em paz, por causa da fotografia. Todos querem ser fotografados Como gostam de fotografia!
Nesse fim-de-semana, retiro para os jovens e no domingo final da Jornada, com missa, que certamente vai durar mais de 3horas e almoço solene, cujo cardápio será : arroz, feijão, sombe (folha de aipim), um pouco de carne, amendoim e talvez lituma (banana amassada). Bebida: coca-cola, água tônica, fanta. Tudo oferecido pela paróquia. O menu é sempre o mesmo nas festas.

Portal DEHON Brasil

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www.dehonbrasil.com