Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

domingo, 15 de agosto de 2010

Comunicado da Cúria Geral sobre Congo

Situação do noviciado de Butembo, Congo

Roma, 13 de agosto de 2010.

Após os dias de agitação o noviciado de Butembo volta à normalidade, pouco a pouco. Alguns fatos particulares agitaram a situação e tiraram a calma dos noviços. Após algumas reuniões nos dias 10 e 11 eles acabaram atendendo ao pedido do Superior provincial e voltaram ao noviciado, onde P. Osnildo estava febril.

Dia 11 o ministro do interior foi a Butembo e esteve com o prefeito da cidade e com o bispo diocesano. Falaram primeiro com os padres da paróquia de Kirago e depois com o P. Osnildo no noviciado. Constatada a precária situação de segurança do local, prometeram enviar militares para a área. A presença deles pode ser um tiro pela culatra pois pode atrair a presença dos bandidos. Nossos confrades da paróquia aceitaram voltar mas pediram ao Bispo um período de descanso em outro ambiente. P. Silvano Ruaro, da vizinha paróquia de Mambasa mostrou-se muito solidário e trouxe um caminhão de víveres necessários. Dia 13, dois confrades partiram de Kisangani e passarão alguns dias ali. Pensa-se em estabelecer uma ligação telefônica via satélite com Butembo que não possui este serviço.

A situação da segurança continua precária. É positivo que o ministro tenha se inteirado da situação. Esperamos medidas que venham a dar maior tranquilidade a toda população. Foi uma experiência dura para os noviços e uma ocasião para refletir sobre suas motivações vocacionais. P. Osnildo testemunhou as razões de sua opção missionária, com coragem e solidariedade em favor da população local, vítima da violência.

Agradecemos ao Bispo de Butembo por sua solicitude pastoral em favor de nossos confrades.

Acompanhamos estes fatos à luz da fé e os lemos como sinais da presença do evangelho num mundo que continua necessitado de anunciadores da paz, dispostos a arriscar a vida para desarmar a violência, em atitudes proféticas de reconciliação e solidariedade.

P. Rinaldo Paganelli, assessor de imprensa

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Nosso drama no CONGO

E o drama continua

Vivemos mesmo um clima de total intranquilidade e insegurança. Ontem,dia 8 de agosto, pelas 19h30m, quando estávamos terminando de jantar, um aviso de militares que fazem a guarda do quarteirão, nos comunicava que os Mai-Mai estavam de novo se posicionando para nos atacar.
Sem perda de tempo toda a comunidade dos noviços, mestre e os dois outros formadores, inclusive os militares que estavam cuidando de nossa casa, partimos em fuga para a cidade.

Passando pela Radio MOTO, dos assuncionistas, fiz um comunicando, dizendo de nossa fuga e em seguida fomos ao bispo diocesano, D Mesquisedeck. Contamos-lhe toda a nossa tragédia. Entrou imediatamente em contato com o comandante do exercito. Sem grandes garantias imediatas, pois o exercito aqui é bem pobre e nem viaturas possui para ir em socorro de emergência.
Do palácio do bispo, fomos ao convento das Irmâs Orantes que nos acolheram fraternalmente. Em pouco tempo arrumaram dormitórios para os noviços e quartos para nos. Passamos uma noite de pesadelos novamente.

De manhã, meus colegas da equipe de formação, comunicaram que iriam abandonar Kiragho imediatamente. Um voltaria para Kisangani; outro para Mambassa. Disse-lhes francamente que permaneceria no meu posto, mesmo se todos quiserem partir.
O dia estava muito triste. Inclusive em vez do sol, uma chuva que entristecia mais ainda nossas horas. Fui conversar com o bispo, falando de minha decisão.
Hoje à tarde, depois do almoço, vamos voltar à Kiragho e conversarei com os noviços. Tenho certeza que todos vão querer partir; ir para Kisangani.

De minha parte nâo vou me opor à decisão de cada um. Mesmo se todos os noviços quiserem também ir embora, eu fico, pois o Sr. bispo pede insistentemente que não abandonemos o local, e que hoje mesmo ele vai falar com o Ministro do Interior, para nos dar uma grande cobertura e proteção. O clima é tenso.

Tenho que aguentar a barra sozinho. A grande questão: os noviços que vão a Kisangani, deverão voltar para casa? ou a Província lhes dará um novo local para continuarem o noviciado desse ano? Vamos interromper o noviciado desse ano?.
Infelizmente a província não dispõe de local para abrigar essa grande turma. Que fazer?

Que o Senhor nos ilumine! D Melkisedeck vai visitar os noviços refugiados no conventos das irmãs, esta tarde. Aproveitei um momento de folga para lhes comunicar essa triste noticia! Peço que rezem! Vivemos um momento bem difícil!

P Osnildo Carlos Klann, mestre dos noviços.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Noite de terror


Tinhamos terminado de rezar a oraçâo da noite. 20h30m. 3 de agosto de 2010.


Quando iamos saindo da capela, três bandidos, bem armados, nos obrigaram a entrar de novo e começaram a tirar, em primeiro lugar, os telefones celulares ( dois somente, pois os noviços nâo têm celular) e mesmo algumas chaquetas. Ajuntaram todos os noviços perto do altar. A mim deixaram no banco atras. Ninguém podia falar. Eles falavam kinande e swahili. A um noviço que tinha algumas unidades ameaçaram com o punhal exigindo o telefone, que ele nâo tinha.


Sentado no banco de tràs, rezava o terço pedindo a Deus, à Virgem Maria e ao Padre Dehon que nos protegesse. Aconselhava os noviços a se manterem calmos e a rezarem.


Dirigiram-se a mim, e através de um intérprete,exigiram dinheiro. Conduziram-me ao meu quarto. Tive de abri-lo. Insistiam : « dinheiro, dinheiro.. » Eu dizia : « naô tenho mais. » Dei para eles o que ainda tinha na gaveta : 5 dolares e alguns francos congoleses. O chefe, olhou ; ficou furioso, jogou o dinheiro na minha cara, e com a espigarda no meu peito dizia : « um padre jà morreu porque nâo quis entregar o dinheiro ». Eu repetia : « nâo tenho mais nada. » Enquanto isso, dois outros bandidos revistavam meu quarto. Reviraram tudo. Eram ignorantes. Um pegou minha câmera fotografica, mas nâo sabia do que se tratava. Olhava curioso, guardou-a na sua sacola e mais tarde perguntou a um noviço que fazia as vezes de intérprete : quanto valia. Respondi que mais ou menos 300 dolares. Ficou contente. Guardou e levou para si. Sem os acessorios naturalmente. Enquanto isso, o chefe, ordenou-me que deitasse de costas para cima e colocsse os braços para tràs. Ali começou o suplicio, a tortura fisica. Com a corda que ele arrancou de uma cortina do quarto, amarrou-me fortemente. Eu gritava de dor. Os noviços que estavam presos na capela escutavam meus gritos. E cada vez ele apertava mais as cordas. Eu gritava. Os noviços pensavam : eles estâo matando o padre mestre ; depois eles vâo nos matar também. Finalmente terminou de apertar, pegou-me pelo colarinho e me levantou. Sempre com ameaça. « Nâo estou brincando. Quero dinheiro ». Repetia sempre a mesma coisa : « nâo tenho mais, nâo tenho mais ». Depois de saquear o quarto, levaram-me para a frente da capela. Ali soltaram um pouco as cordas. Que alivio ! Enquanto isso, eles pegavam dois ou três noviços e os levavam para os seus respectivos quartos, onde roubavam tudo o que podiam. Depois os trancavam em seus quartos. Assim até passarem os 26 noviços. Limparam o que podiam.

Depois de 2 horas de tormento, eles pediram o vinho de missa. TInha meitade de uma garrafa. Eles levaram.

Sairam da capela e me disseram : vai dormir.

Graças a Deus, eles nâo tentaram profanar o sacrario. Estava firmemente decidido a nâo permitir tal profanaçâo, mesmo sofrendo as ameaças de punhal e de espingarda.

Segundo os noviços o grupo era numerosissimo. Nossa casa estava rodeada de bandidos bem armados.

Nâo eram militares. Quando chegaram, imobilizaram o guarda noturno e perguntaram imediatamente se havia militares na casa.

Os noviços ficaram traumatizados. Mantive-me calmo durante todo o tempo, fazendo silenciosamente minhas preces.

Depois do assalto, reuni os noviços na capela para agradecer a Deus, à Virgem Maria e ao P Dehon a graça de nos preservarem com vida.

Com apenas um telefone conseguimos entrar em contato com Kisangani. Kisangani chamou as autoridades de Butembo. A resposta : estamos a caminho. Nâo chegaram até o dia seguinte. Somente dois militares, de moto, vieram aqui, às 8 horas da manha do dia seguinte, para fins de estatistica de assaltos.

Infelizmente essa é a nossa realidade : Butembo està nas mâos dos bandidos ! Vive-se aqui uma guerra cruel : o pobre povo, sem proteçâo, contra os marginais, os bandidos bem armados, e às vezes mesmo até contra os proprios militares.

A tempo : quando deixaram nossa casa, de noite, os assaltantes encontraram um pobre homem. Esse resistiu ao assalto. Eles o mataram.


Butembo, 4 de agosto de 2010


P Osnildo Carlos Klann, scj

Mestre de noviços

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