Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

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domingo, 21 de dezembro de 2008

A difícil busca da paz

A delegação do governo congolês e os representantes do CNDP (Congresso nacional da defesa do povo) do revolucionário Nkunda, reunidos em Nairobi, Quênia, ainda não chegaram a um acordo para a assinatura do cessar-fogo, no leste congolês. A cerimônia da assinatura estava prevista para quinta-feira passada. Os representantes do CNDP entraram com nova exigência: querem a presença, na reunião, dos presidentes da duas Casas do Congresso congolês e os presidentes dos partidos do governo e da oposição. Os representantes do governo congolês nâo aceitaram essa condição. A assinatura foi então adiada para sexta-feira, dia 19. Diante das divergências das duas partes, o mediador das conversações, o ex-presidente da Nigéria, Olusegum Obasanjo se propõe impor o cessar-fogo, segundo as informações da Radio Okapi. Sem nenhum resultado positivo as conversações continuaram sábado e domingo, dia 21 de dezembro.

Nesse domingo, a reunião de Nairobi, Quênia, terminou melancolicamente. Pelo jeito os revolucionários de Nkunda não querem mesmo a paz. Querem a guerra. Os argumentos que agora apontam para não assinar o acordo são falsos, segundo o mediador do conflito. Acusam o exercito congolês de atacar suas posições. O que não corresponde à verdade.. A própria MONUC ( Missão da ONU no Congo) constatou “in loco” que nenhum ataque foi desferido pelo exercito congolês contra as posições de Nkunda.

Somente os representantes do governo congolês assinaram os termos de cessar-fogo. E esse gesto unilateral revela a “boa vontade” do governo congolês de estabelecer a paz.

Os representantes dos dois lados concordaram em continuar as conversações a partir do dia 7 de janeiro de 2009. Mais um tempo de esperança. A continuação desse frágil cessar-fogo unilateral objetiva facilitar o encaminhamento de ajuda humanitária aos flagelados da guerra e pode ajudar também a continuação do diálogo entre as partes, em clima mais tranquilo, segundo os observadores.

A impressão que se tem é que realmente não existe nenhuma boa vontade em terminar essa guerra. Essa impressão inicial continua, apesar do teatro que fazem as partes beligerantes e as forças ocultas que estão atrás de tudo isso. Por que isso? E o povo sofre.

P. Osnildo Carlos Klann, scj

Kisangani, 21 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

As "guerras" do Congo

A guerra no leste congolês patina. As conversações de Nairobi, Kenia, entre a delegação governamental e os representantes do CNDP (Congresso nacional de defesa do povo) vão recomeçar a partir do dia 17 de dezembro, apos um primeiro round que, segundo o mediador do dialogo, ex-presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, foram positivas e já se caminha, um pouco, na direção da paz.
Mas há profundas divergências. A Onu acaba de declarar que Ruana está dando apoio multiforme ao general Nkunda. Mas acusa também a RD do Congo de apoiar outros revolucionários que, a partir do território congolês, combatem o regime de Ruanda, como a FDLR( Forças democráticas para a libertação de Ruanda) e Pareco ( Patriotas resistentes congoleses).
Ruanda não aceita as declarações dos enviados especiais, experts da Onu, a respeito de seu apoio aos revolucionários de Nkunda. Acusa, pelo contrario, a RD do Congo de apoiar milicianos e grupos revolucionários que combatem o regime dos tutsis, em Ruanda, como as FDLR e os Pareco.

Além dos três grupos armados citados acima, há ainda um quarto, que combate e tenta derrubar o governo de Sudão. É o LRA ( Exército de resistência do Senhor). Eles se escondem no nordeste congolês, para invadir o Sudão. Mas estando em terras congolesas, perturbam também os congoleses.

Uma ação conjunta dos militares ugandeses, sudaneses e congoleses conseguiu, domingo passado, desbaratar a principal base do LRA, destruindo seu acampamento principal de Koni, na RD do Congo. Essas operações militares vão continuar até acabar com todos os acampamentos desse grupo revolucionário. A população de Dungu, na Província Oriental de Kisangani, deseja que isso aconteça ainda antes das festas de fim de ano. Além disso, estão preocupados com o que vai acontecer com as crianças e adolescentes recrutados por esse grupo, como soldados.

Como podem observar, as frentes de luta no leste congolês são várias e com grupos armados atemorizando e mesmo escravizando a população, como acontece agora mesmo com os Mai-Mai que, perto de Butembo, mantém a população sob domínio de força.

Esperemos que em Nairobi, os representantes do governo congolês e os enviados de Nkunda cheguem a um acordo e selem a paz. Que o espírito de paz natalino possa inspirar esses homens para abrirem um caminho de paz e prosperidade no leste congolês!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Capela São Rafael

Mais um domingo cheio. Missa na capela São Rafael,bairro Batiambombi. Do outro lado do Rio.
Viagem de canoa; 30 minutos até o outro lado. Depois uma caminhada de 45 minutos pelas trilhas do mato. Kolomai, o “piroguier”, na frente, com seu andar defeituoso, uma perna bem mais curta do que a outra. Mas caminha firme, levando minha maleta e a cadeirinha de vime, onde a gente se senta na canoa. Se tem pernas defeituosas, possui, em compensação, braços vigorosos; rema com segurança e é considerado o "mestre das águas" ( 'E o significado de seu nome, Kolomai). De quando em vez, cruzávamos com algumas pessoas. Passamos por três aldeias. Todas pobres. As mesmas casas de sempre: bambu e barro. Os crentes estão presentes também nesses longínquos recantos. Suas igrejas são como as nossas, de bambu, e algumas vezes, bambus cobertos de argila. E o que mais se vê, são crianças sujas, maltrapilhas, mas sempre com uma carinha muito simpática.
Durante a caminhada, de ida e volta, pelo mato, tive tempo bastante para refletir. Lembrei-me que daqui dessas terras africanas, partiram levas e levas de escravos, séculos passados, para o trabalho escravo de nossa pátria. Que sofrimento dessa gente, longe da pátria, dos entes queridos, de suas tradições, obrigados a viver em outra cultura, em outra religião! A presença missionária brasileira, na África, certamente tem um singelo sentido de reparação desse pecado de nossos antepassados. Essa divida do Brasil para com a África é muito grande e é preciso reparar esse mal.
Passando pelas aldeias, tive a impressão de estar voltando aos séculos XVIII ou XIX. Penso que de lá para cá pouca coisa mudou nesses recantos. Talvez até tenha piorado. E se pergunta: vai ainda mudar?
A volta levou 1h45m. Subindo o rio Congo, lentamente.
Mais um domingo, com muito cansaço, sem comer, pagando para trabalhar, mas contente da vida, pois ajudamos o próximo!

P. Osnildo Carlos Klann, scj
Dezembro de 2008.

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