Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Meu segundo Natal em terras africanas.

Natal totalmente diferente daqueles que vivi até dois anos atrás. Sem presentes, sem roupa nova, sem muitos presépios. No centro da cidade apenas um. Nas igrejas, sim; nas casas, não. Árvore de Natal, nem sombra. Vi um tolequista (taxista de bicicleta) com boné de Papai Noel. Nada mais. Estamos aqui bem longe de uma sociedade consumista. O dia de Natal mesmo é como qualquer outro dia de domingo. Indo celebrar missa em nosso Colégio Maele, no centro da cidade, vi muita gente trabalhando com enxada e foice; mamães com mercadorias na cabeça, indo para o centro, vender seus produtos...crianças brincando, não com os presentes que não ganharam, mas com a velha bola que eles mesmos fabricaram, de pano. Homens e mulheres pacatamente sentados à frente da casa, conversando ou vendo o tempo passar. Na verdade, tudo isso, dá uma dor profunda no coração da gente.

Não concordo com os exageros da nossa cultura consumista; mas sofro com essa realidade dura da miséria. Com o dinheiro que ganhei durante as férias, patrocinei cestas de Natal para as famílias mais miseráveis da comunidade. A grande maioria aqui é pobre. Se fosse dar para os pobres todos, deveria dar para toda a comunidade. Não há dinheiro que chegue. A gente distribuiu pouca coisa.. Além de produtos essenciais de alimentação e higiene, biscoitos e balas também para as crianças. Para elas, a comissâo de caridade da paróquia preparou um almoço. Cardápio: arroz, feijão, peixe defumado preparado no óleo. E um refrigerante.

Os paroquianos daqui não ajudam quase nada. O que deram para os pobres, neste Natal, foram dois quilos de alimento, alguns pedaços de sabão e uns 15 dólares. Nada mais.

A missa da véspera de Natal foi bastante solene. Longa. Muitos cantos e muita dança. Eles gostam disso.. Está no sangue deles toda essa movimentação celebrativa.

Depois da missa do dia 24, que terminou pelas 23h, tendo começado às 20h, partilhamos, junto com as religiosas de nossa paróquia, a ceia natalina. Coisa simples: arroz, banana frita, peixe defumado, carne de galinha, bolinho de trigo, frito no óleo ( baigné: se pronuncia benhê); tudo isso regado com cerveja, e refrigerantes. Na ceia de Natal, nâo faltou, inclusive, um vinho português, bom, por sinal: Valmaduro.

Ao contar tudo isso , não estou me queixando ou reclamando da vida; nada disso. Estou realizado, em minha missão, por poder partilhar um pouco a dor e a miséria desse povo.O duro é que não se pode, de imediato, resolver toda essa situação. Isso tudo é estrutural. ‘E preciso mudar a estrutura econômico-jurídica não só da África, mas do mundo, como vai declarar o Papa em sua mensagem do dia 1 de janeiro de 2009. “ A luta contra a pobreza exige uma cooperação quer no plano econômico quer no plano jurídico que permita à comunidade internacional e, em especial, aos países pobres de encontrar e de colocar em pratica soluções coordenadas para enfrentar esses problemas, oferecendo um quadro jurídico eficaz à atividade econômica”. O Papa reconhece que políticas baseadas no assistencialismo aos países pobres fracassaram completamente. O importante e necessário é “investir na formação das pessoas e desenvolver, de maneira inclusiva, uma cultura especifica de iniciativas”, que vão gerar bens, escreve o Papa. A mensagem corajosamente descarta a política de pura distribuição de riquezas existentes. Isso não resolve definitivamente o problema da pobreza. Segundo o Papa, numa economia moderna, o valor da riqueza está em sua possibilidade de criar recursos para o presente e para o futuro. Dar aos países pobres condições de gerar bens, recursos é a maneira eficaz e durável de lutar contra a pobreza.

Leiam, na integra, a mensagem papal cujo titulo é: Combater a pobreza, construir a paz!

Um abraço a todos e um Bom Ano Novo.

Kisangani, 30 de dezembro de 2008.

P. Osnildo Carlos Klann, scj

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