Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

Para entrar em contato, escreva para ocklann@yahoo.com.br

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Edição 17

Casa São Lourenço

Meus amigos(as),

Finalmente consigo novamente enviar-lhes algumas informações a mais sobre nossa atividade aqui em Kisangani, também algumas fotos da Casa Sâo Lourenço(1 ) e da Casa Sta Bakhita (2). A terceira foto é do grupo de seminaristas com quem trabalho.


Nesse ano de 2007, a Província Congolesa dos Padres SCJ festeja 110 anos de presença na Província Oriental (Estado Oriental) da Republica Democrática do Congo, cuja capital é Kisangani.
Num artigo anterior, já lhes informei sobre a historia dessa evangelização, lembrando os momentos de crescimento e os periodos de dificuldades ingentes, por causa de guerras, revoluções e perseguições.
Atualmente, a presença dehoniana aqui está reduzida em relação a alguns anos atrás. Mas mesmo assim nossos religiosos marcam presença com obras de alto teor social.
Hoje e nos próximos artigos, vou apresentar-lhes a historia dessas obras. Começo com a Casa São Lourenço.

1.1. No inicio, eram os prisioneiros
Em 1989, a Congregação dos Padres SCJ, no Congo, iniciou uma atividade social, em Kisangani, em favor dos presos. A comunidade São Lourenço, constituída pelos padres Giovanni Pross,scj, e Giovanni Lamieri,scj, acolhia os prisioneiros postos em liberdade, aguardando sua volta para o interior, de onde tinham vindo, ou esperando conseguir algum emprego na cidade. Na Casa São Lourenço, esses ex-detentos encontravam alojamento, comida, alguma atividade e ajuda para a viagem de volta.

1.2. Mais tarde, eram jovens abandonados
Mas a casa era grande e os ex-detentos, poucos. Sobrava espaço. E os jovens abandonados pelas ruas da cidade eram muitos. O Estado nâo conseguia dar-lhes a assistência necessária. Em parceria, então, com o « Departamento estadual de guarda e educação » dos jovens, a Casa São Lourenço começou a receber também os jovens abandonados. Isso em 1991.
No projeto de reeducação desses jovens constava : alfabetização, trabalho manual, esporte, agricultura, (a Casa Sâo Lourenço comprou um campo para essa atividade), padaria (os jovens fabricavam o pão e o vendiam na cidade), marcenaria (produziam principalmente, caixões de defunto).

1.3. A decepção
Apesar de todo o esforço para a reeducação desses jovens, os formadores experimentaram uma grande decepção por ocasião dos saques ocorridos em setembro de 1991, na cidade de Kisangani. Alguns jovens da Casa São Lourenço participaram dessas ações violentas e com o fruto dos saques fugiram. Outros foram presos.

1.4. A reflexão
Os jovens que foram acolhidos na Casa São Lourenço, eram já viciados. Os resultados de sua recuperação eram desproporcionais ao esforço e aos gastos materiais, espirituais e psicológicos havidos. Em vez de corrigir, pensou-se, então, em prevenir o mal, acolhendo os menores abandonados. Começou-se o trabalho com 12 menores de 8 a 11 anos. No inicio, eles freqüentavam a Casa São Lourenço, durante o dia. Comiam, tinham sua ocupação, seu divertimento, seu trabalho. As atividades que faziam eram as mesmas do período anterior: alfabetização, pão, caixão de defunto, agricultura. A noite, iam para casa.. Mas, a pedido, dos próprios menores, a partir de determinado momento, eles começaram também a dormir na casa. Estamos no ano 1992.

1.5. Uma nova etapa
Em 1998, a Casa São Lourenço assina um contrato com o CICR ( Comitê internacional da Cruz Vermelha), para acolher também os “filhos desacompanhados” (são os jovens e crianças que se separaram de seus pais durante a guerra e que não os tinham encontrado ainda) e “os meninos-soldados” (treinados para a guerra). Para atender a esses novos desafios, foi necessário, buscar novas dependências. A generosidade de um muçulmano colocou à disposição da obra um pavilhão no centro da cidade. Essa iniciativa continua até hoje com os filhos desacompanhados. Além do espaço físico, foi necessário aumentar também o numero de educadores e formadores especializados para atender a esses jovens.

1.6. Feiticeiros
Um novo problema vem à tona : o fenômeno dos rapazes acusados de feitiçaria. Esses também, abandonados pelas suas famílias, vagavam pelas ruas da cidade. Marginalizados pela sociedade eram desprezados e temidos por todos. A Casa São Lourenço abriu suas portas também para eles.

1.7 A Casa Santa Bakhita
Não só rapazes vagavam pelas ruas de Kisangani. Meninas também viviam na rua, a maioria acusada de feitiçaria também. Para acolher essas meninas abandonadas, a Casa São Lourenço abre uma filial com o nome da santa africana : Bakhita. Para essas meninas, foi alugado um pavilhão no centro da cidade. Isso em 2002.

1.8. Novas construções
O numero de internos e internas aumentava cada vez mais. As antigas dependências ficaram pequenas. Era preciso também procurar outros lugares para essa obra, pois onde estava atualmente, no centro da cidade, nâo funcionava bem.
Com o apoio da Congregação dos Padres SCJ, de amigos benfeitores, principalmente de uma senhora de Volano, Itália, com a ajuda de pessoas ligadas à MONUC (Missão da ONU o Congo), com a substancial colaboração financeira da Embaixada Alemã, em Kinshasa, foram construídas duas casas: uma para os rapazes outra para as meninas, num local apropriado, fora do centro da cidade.
A casa para os rapazes ficou pronta em 2005, e a casa para as meninas foi inaugurada, no dia 11 de março de 2006.
Atualmente as duas casas acolhem 130 moços, moças e crianças. Diretor: P. Giovanni Prost,scj, e vice-diretor: P. Alphonse Yema,scj.

1.9. Manutenção
92% das despesas de manutenção da casa provém de benfeitores. 8% é a parcela de colaboração da própria casa. Os benfeitores estrangeiros são da Itália, da Alemanha (Província alemã da Congregação SCJ), principalmente IPIBIMI (organização italiana de ajuda) e também organismos internacionais que atuam no Congo : PAM (Programa alimentar mundial), CICR ( Comitê internacional da Cruz Vermelha), Caritas, MSF (Médicos sem fronteiras) , FAO, UNICEF e MONUC (Missão da ONU no Congo).

1.10 Ajuda à prisão central de Kisangani
Há muitos anos já, a Casa São Lourenço , em nome da Cáritas, leva três vezes por semana, comida para os prisioneiros. Recorde-se que aqui o Estado não dá comida aos detentos. As entidades caritativas e os próprios parentes dos encarcerados devem fazê-lo.

Conclusâo
A casa Sâo Lourenço tem uma historia de bons frutos. Devido à limitaçâo humana nem tudo o que é preciso fazer se consegue realizar, mas se faz aquilo que se pode fazer. Em seu discurso na inauguraçâo da Casa Santa Bakhita, o diretor, P. Giovanni Prost, afirmava : « Digo, muitas vezes, aos educadores que 60% de nosso serviço no campo da educaçâo vem do coraçâo. A preparaçâo profissional é muito importante, mas nâo pode substituir ,de forma nenhuma, o trabalho do coraçâo. O amor e somente o amor consegue preencher o vazio causado pela falta de amor ».
Esse amor, que aproxima as pessoas, que cura as feridas de seus coraçôes e realiza milagres, anima todos aqueles que se dedicam a essa obra de promoçâo humana : Sâo Lourenço e Santa Bakhita.


Kisangani, 15 de novembro de 2007


P. Osnildo Carlos Klann, scj

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Edição 16

Prezados amigos (as)
Hoje estou mudando de residência. Deixo São Gabriel, às margens do Rio Congo e vou para a Comunidade D. Wittelbols, às margens do Rio Tshopo.
Será por três meses, enquanto meu colega mineiro estiver em férias no Brasil. Talvez demore um pouco para lhes ecrever agora.
Pode ser que a instalação de internet na nova comunidade leve algum tempo.
Um grande abraço a todos.

Que Deus vos abençoe. P. Osnildo

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Edição 15

Sou o 410º
Há seis meses estou em nossa missão do Congo, precisamente em Kisngani, que é o centro da missão dehoniana nesse país. Aqui o primeiro missionário scj, então P. Grison, francês, celebrou a primeira missa, justamente há 110 anos, dia 25 de dezembro de 1897. De lá até hoje para aqui vieram 410 missionários estrangeiros. Eu sou, portanto, o 410º dehoniano missionário no Congo. Aqui cheguei a 7 de março de 2007.

Uma história de sofrimento
A missão que P. Dehon tanto amava e pela qual lutou muito, sofreu ao longo de sua história, teve momentos difíceis: no início, as doenças ceifaram muitas vidas jovens de religiosos missionários, que para aqui vieram cheios de entusiasmo, para evangelizar esses povos. Outro momento difícil para essa missão foi o ano 1964, mais precisamente, o mês de novembro. Depois de sua independência, o Congo, então Zaire, conheceu momentos de muita convulsão social, de guerras e revoluções, foi, nessa oportunidade, quanto o ódio contra os estrangeiros e colonizadores era atiçado pela ganância e poder, que a missão perdeu 29 de seus religiosos, assassinados brutalmente pelos revolucionários simbas.
Depois desse momento trágico, a missão experimentou um período de muita instabilidade e sofrimento. Outro momento foi em 1973, quando Mobutu desencadeou o processo de “zairinização” do país, transformando o então Zaire num estado completamente laical, onde todos os sinais de religião foram banidos: as escolas católicas entregues aos leigos, os nomes cristãos do batismo foram trocados, os sinais de cristianismo banidos dos lugares públicos, etc. De 1991 a 2001, o povo e a Igreja do Congo sofreram muito também com os desmandos sociais e a violência: roubos, assaltos, agressões, prisões arbitrárias, seqüestro de bens dos religiosos, assassinatos, extorsões... e tudo isso culminou na guerra dos seis dias em 2001, quando dois povos estrangeiros, os Ruandese e os Ugandeses, que aqui vieram para ajudar a derrubar Mobutu, começaram a guerrear entre si pela posse da terra, trazendo o medo, a morte, a destruição, a fome, e miséria. Realmente esse povo é um povo sofrido! Como me dizem os garotos que se queixam da fome “O povo congolês sofre muito”.
Mas aos poucos, com o aumento das vocações autóctones, a missão foi se restabelecendo e agora passa por um momento relativamente bom, com um bom número de candidatos em seus seminários: propedêutico, filosófico e teológico. O número de membros é ainda pequeno. Ao todo somo 90 religiosos: 41 padres, 3 diáconos, 3 irmãos e 43 religiosos de votos temporários (estudantes de filosofia, teologia e estagiários).



Obras entregues
Depois do massacre de nossos religiosos, em 1964, o número de dehonianos não era mais suficiente para atender a todas as paróquias e obras que a Congregação tinha então. E o temor pelo futuro do país, sua instabilidade política e social impediam a chegada de novos missionários para substituir os que morreram e os que voltaram para as suas províncias. Por isso, várias paróquias foram entregues aos bispos ou a outras congregações. Muitas permanecem até hoje sem padres para o serviço pastoral e litúrgico.

Situação atual
Atualmente são só 13 comunidades: em Kisangani (6), Butembo(1), Basoko(1), Babonde(1), Ibambi(1), Mambasa(1), Kinshsa(2).
As primeiras atividades pastorais da Província Congolesa: paróquias (6), obras sociais(3), formação(3), escolas(2) e casa de retiros(1). Algumas dessas obras não são comunidades religiosas, mas são administradas pelos nossos religiosos.
Aqui em Kisangani está concentrado o maior número de comunidades, seis. A ação pastoral se desenvolve em diversos setores: 2 paróquias(Santa Marta e São Gabriel), 1 Centro de recuperação de deficientes físicos (Centro Simama); 2 casas para acolher meninos e meninas de rua (Obra de São Lourenço e da Bem-aventurada Bakita); 2 casas de formação: propedêutico (Casa Dom Wittebols) e escolasticado filosófico (Ecolasticado P. Dehon) e 1 casa de retiros (Centro Dom Grison).

Meu trabalho
Meu trabalho, por enquanto, é, justamente, no Centro Dom Grison. Trata-se de uma casa de acolhida e de retiros. Aliás muito procurada, não só para retiros e encontros de religiosos e religiosas, padres, leigos e movimentos, mas também para hospedagem de pessoas que passam por aqui, uma vez que cidade há poucos hotéis esses são muito caros. Muitos professores, que vêem dar cursos na Universidade de Kisangani, se hospedam aqui conosco, bem como muitos cursos de formação promovidos pela MONUC (Missão da Onu no Congo) são feitos em nossas dependências.


Dehonianos brasileiros em Kisangani
Não sou o único brasileiro dehoniano no Congo. Somos em quatro. Todos trabalhamos em Kisangani. P. Joaquim Tomba, mineiro, é superior propedêutico, P. Mateus Buss, catarinense, é superior do Escolasticado Pe. Dehon, P. Vilson Hobold, catarinense, é o superior da Província Congolesa dos Padres SCJ. E eu trabalho no Centro D. Grison e vivo na paróquia São Gabriel.


Uma opção feliz
A todos vocês, prezados leitores, devo confessar que estou contente com a opção que fiz, vindo para cá. Foi uma mudança radical em minha vida, mas não estou arrependido. Sei que, no momento, não tenho condições de fazer grandes coisas pelo povo, pois não conheço ainda a língua swahili, que é a língua local. Mas mesmo assim já tenho dado muitas palestras e pregado retiros, em francês. O que me realiza bastante. Os pedidos para cursos de formação, palestras e acompanhamento pessoal são muitos. Por isso, não estou ocioso. Tenho muito trabalho.


Realidade chocante
O que é difícil é aceitar a realidade social daqui. O Congo vive um momento muito difícil de sua história, após tantas guerras e revoluções. A pobreza, melhor, a miséria, em que vive grande parte da população choca a gente e nos deixa inquietos, pois diante da imensidade de problemas estamos de mãos vazias.

Concluindo
Rezem por nós missionários, para que nunca desanimemos diante de magnitude dos problemas existentes, sem perspectivas de uma solução imediata!
Que Deus abençoe a República Democrática do Congo e lhe dê dias melhores, com o trabalho e o esforço solidário de todos!

P. Osnildo Carlos Klann, scj
E-mail: ocklann@yahoo.com.br

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Edição 14

Curso de Introdução à Bíblia
P. Joaquim Tomba, bom mineiro, que é o diretor do curso propedêutico aqui em Kisangani, vai ao Brasil fazer suas férias, durante três meses, a partir de 1° de novembro próximo. Nosso superior provincial convidou-me para substituí-lo durante esses três meses. Portanto, a partir da ultima semana de outubro estarei mudando de residência, permanecendo sempre em Kisangani. Mas já comecei a dar para os propedeutas o curso de Introdução à Bíblia. Gosto muito desse trabalho. Principalmente por se tratar da Bíblia. Cada dia mais estou mergulhando na vida da província congolesa.

110 anos da paróquia de São Gabriel
Dia 30 de setembro foi feita a abertura dos festejos dos 110 anos de paróquia, aqui em Simisimi. O encerramento será no Natal desse ano, data em que, há 110 anos, P. Gabriel Grison celebrou a primeira missa aqui. Naturalmente os festejos não são como os dali. Essencialmente se resumem na celebração eucarística e alguma outra atividade, como desfile das diferentes pastorais e movimentos da paróquia.

Chuvas
O período das chuvas começou. Outubro e novembro são os meses mais chuvosos nessa região. Chove abundantemente. Imaginem o estado de nossas estradas agora! Não dá para correr mais que 10 ou 15 quilômetros por hora.; é um grande sacrifício chegar até o centro da cidade. Nesses casos, é melhor pegar a moto, quando não chove, naturalmente!

Cadernos, canetas e réguas...
Como escrevi anteriormente, comprei material escolar para uma centena de alunos, nossos conhecidos, com o dinheiro que me foi enviado para comemorar meu aniversário. Não podem imaginar agora o “sufoco” que passo para explicar que não tenho mais material escolar para distribuir. Eles insistem e quase brigam por uma régua, por um lápis, por uma caneta. Rondam continuamente meu escritório, esperando qualquer coisa, mesmo que seja papel para encapar cadernos!

P. Osnildo Carlos Klann, scj
Kisangani, 9 de outubro de 2007.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Edição 13

70 anos
Nessa semana, festejei 70 anos de vida. Vida bastante longa já. Desses 70 anos, 50 foram vividos como religioso e 43 como sacerdote. Olhando do alto desses 70 anos, só tenho que agradecer a Deus por ter chegado onde cheguei, com saúde e muita disposição ainda para trabalhar.Olhando do alto desses 70 anos, vejo a mão de Deus me amparando na subida, principalmente, nos momentos mais difíceis.Olhando do alto desses 70 anos, contemplo o carinho e a ternura de Jesus, puxando-me pela mão, levantando-me nas caídas, enxugando minhas lágrimas nos momentos de tristeza, sorrindo comigo, nas horas de alegria e curando minhas feridas, quando o mal do pecado fez sangrar meu coração. Do alto desses 70 anos, sinto a presença materna de Maria, pela qual nutro uma profunda devoção, feita de tentativas constantes de seguir seu exemplo de escuta da palavra de Deus e de inteira oblação à vontade do Pai.
Olhando do alto desses 70 anos, contemplo minha família,meus pais, jà falecidos, meu irmão, minhas irmãs, meus cunhados e cunhada, meus sobrinhos e sobrinhas, todos meus parentes como um maravilhoso presente que Deus me concedeu. Senti e sinto ainda, em minha caminhada, a sua presença encorajadora e seu estimulo fraterno. Do alto desses 70 anos, contemplo com imorredoura gratidão e amor, minha Congregação, minha província, meus confrades, meus ex-alunos e ex-noviços. A eles devo muito, pois sem a sua colaboração e seu apoio hoje não estaria aqui, tentando viver, às margens do Rio Congo, na missão que P. Dehon tanto estimava, o ideal reparador e oblativo de nossa Congregação. Do alto desses 70 anos, contemplo as grandes chances que tive na vida, proporcionadas pelos meus superiores e amigos. Mereci, por bondade deles e dos confrades, a confiança de cargos importantes, dentro da Congregação e da Província. A experiência do exercício da autoridade me ensinou que é muito mais fácil e melhor obedecer que mandar.
Do alto desses 70 anos, contemplo o numero incalculável de leigos e leigas, de amigos e amigas, que durante esses anos todos acompanharam minha trajetória de religioso e sacerdote. Lembro com emoção e gratidão, a atenção e o carinho que eles sempre me dedicaram e me dedicam ainda, sendo isso para mim uma força enorme em minha caminhada não tão fácil. A eles devo, sem duvida, grande parte de minha fidelidade ao ideal abraçado.Olhando do alto desses 70 anos, contemplo a enorme multidão de crianças e jovens que passaram pela minha vida e aos quais dediquei minhas forças e minhas energias.
Em minhas anotações no retiro de preparação à ordenação sacerdotal , pedia ao Senhor que me desse um grande amor e carinho para com as crianças e adolescentes. Os mesmos sentimentos que Ele, quando por aqui passou, alimentava por eles.
Estou vivendo agora aqui, no seio da mata congolesa, de modo muito especial, essa graça que pedi ao Senhor, há 43 anos. Sinto por eles e elas um amor muito grande e uma compaixão muito profunda pela situação de miséria que vivem! Minha angustia é imensa, pois não posso fazer muita coisa por eles. Sinto-me de mãos vazias. Os problemas são bem maiores que minhas condições de resolvê-los. Procuro fazer o que posso, em minha infinita limitação.Do alto desses 70 anos, revejo os dias de tempestade de minha vida. Não foram poucos. Mas no meio das tribulações, a presença do Espírito me dava forças para sobreviver às borrascas das tentações e do pecado.
Um dia, muitos anos atrás, recebi de um confrade já falecido, uma carta, onde ele me escrevia: “os problemas e dificuldades que passamos não devem ser degraus para descer, mas degraus para se subir na vida”. Essa rica filosofia me acompanhou e me acompanha sempre. Mister se faz saber aproveitar os revezes e os problemas para crescer, para se realizar. Do alto desses 70 anos, revejo os momentos de decepção de minha vida; revejo as poucas pessoas que me fizeram mal, que não me amaram, certamente, por culpa minha. A todas elas, com muita humildade e caridade digo que perdoou tudo, que não trago comigo nenhum ressentimento, nenhuma mágoa, que só lhes desejo paz e felicidade!
Do alto desses 70 anos, invoco a presença de todos aqueles que, ao longo de minha vida, os tenho ofendido, magoado, machucado, certamente sem querer, mas por fragilidade humana. Não sei se são poucos ou muitos, mas a todos eles quero pedir humildemente perdão. Do alto desses 70 anos, solto um forte grito que reboe por todas as montanhas deste mundo: ”Minh’alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus meu Salvador, porque fez em mim grandes coisas. Santo é seu nome”. ( cf. Lc1, 46-50).
E quero dizer a todo mundo “Pela graça de Deus, sou o que sou”(1Cor 115,10).

Obrigado, Senhor!

Kisangani, 28 de setembro de 2007.
P. Osnildo Carlos Klann, scj

A festa de meu aniversário
Recebi de três amigos e benfeitores de São Paulo certa quantia de dinheiro para celebrar com meus amigos da paróquia meu aniversário. Inicialmente, pensei em lhes oferecer um almoço bem farto, pois eles passam muita fome. Depois, refletindo melhor e conversando com meus colegas, decidi dar-lhes, em primeiro lugar, o material escolar de que precisam, agora no começo do ano letivo, aqui no Congo. Constantemente recebia o pedido de caderno, caneta, lápis, borracha, papel para encapar os livros etc. Parte do dinheiro, pois apliquei na compra desse material para 120 estudantes.
Eram os nossos coroinhas e os filhos de nossos funcionários. Além disso, patrocinei, como celebração de meus setenta anos, o Dia da Amizade, celebrado em nossa paróquia, duas semanas atrás. Além de retiro, palestras, missa, o Dia da amizade ofereceu também a diversão de um passeio de caminhão até nosso escolasticado, a 16 quilômetros daqui. Participaram mais de 300 jovens e crianças. Para celebrar meu aniversário, cobri as despesas com o caminhão e a bebida que foi oferecida a todos os participantes do passeio. A generosidade de meus amigos foi grande e pude ainda, dentro das comemorações de aniversário, comprar um jogo de camisa de futebol para os funcionários do Centro D. Grison, e patrocinar um jogo amistoso entre nossos funcionários e os professores do Liceu Anuarite, das Irmãs Canossianas. Depois do jogo – que perdemos nos pênaltis, depois do empate de 0 X 0, - um frugal coquetel com bebida, amendoim e banana frita para os jogadores.
Em nossa comunidade religiosa, também foi festejada a data com um jantar, no pátio de nossa casa, à luz brilhante da lua cheia daquela noite. Poucas pessoas estavam presentes, pois vou comemorar mesmo o aniversário com todos os religiosos dehonianos de Kisangani, sábado, no esolasticado, juntamente com os 50 anos de vida religiosa do Ir. Renato, que trabalha aqui no Congo já há mais de trinta anos. Um momento importante de meu aniversário: pela primeira vez, celebrei missa, em nossa paróquia, em swahili. Suei bastante, mas me sai otimamente bem, segundo os comentários. Mas o sermão foi ainda em francês. Deo gratias!
Aos benfeitores que me ajudaram a proporcionar a meus amigos daqui a alegria de uma festa simples e da aquisição de material escolar, meus sinceros agradecimentos. Deus lhes pague em dobro.
A todos que me enviaram mensagem de felicitação pelo aniversário, meus agradecimentos!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Edição 12



Meus amigos (as) , hoje vou lhes mandar apenas algumas notícias daqui. Isso para manter nosso elo de comunicação. Uma reportagem que preparei sobre os Tutsis vou enviar na próxima vez.

Guerra
Graças a Deus a guerra na região leste do Congo terminou. Como lhes escrevi, numa reportagem anterior, comentando as denuncias do Bispo de Bukavu, D. Francisco Xavier, “A situação politica no Leste congolês não está clara. Vive-se a psicose de guerra ». De fato, semana passada, a guerra estourou naquela região, mais precisamente em Massissi, Goma.. Uma população inteira teve de se refugiar na mata, enquanto o exército congolês e os revolucionários (ruandeses et banyamulenge : pronuncia-se « banhamulengue », isto é, os descendentes de congoleses(as) com ruandeses(as), que habitam a região) trocavam tiros. Os soldados da ONU se colocaram entre as duas partes e evitaram o alastramento da guerra. As partes chegaram a um acordo, creio, muito frágil. O leste congolês, a região dos grandes lagos, é muito cobiçada por suas riquezas naturais e pelo petróleo. As grandes nações também « estão de olho » nesta região. Dizem que querem internacionalizar o Congo, como se falou da região de nosso Amazonas.
A gente nunca sabe até quando essa paz vai durar. Quero ver quando a ONU sair do Congo !!! Os ruandeses, especialmente, os tutsis, estão muito interessados em se apoderar não do leste, mas de todo o Congo. Por incrível que pareça o chefe dos revolucionários que provocou a guerra dias atrás, è um ruandês, que vive naquele pais, e tem livre acesso ao Congo, onde lhe prestam honras militares e o chamam de « chefe ». Soube também que o vice-presidente do Congo é um ruandês (tutsi) naturalizado. Assim se confirma cada vez mais o poder de penetração e de conquista que têm os tutsis. Eles são inteligentes ; sabem o que querem, estabelecem metas claras e as perseguem, com perseverança.
Havia a preocupação de que a guerra pudesse se estender para outras regiôes e até mesmo Kisangani, pois a distância não é grande : são apenas 600 quilômetros que nos separam do centro das discórdias. Graças a Deus tudo terminou rapidamente e os disturbios se confinaram àquela região. Diga-se de passagem que não existem estradas de para . avião. Ou pelo mato.

Jornada da amizade
A paroquia S . Gabriel programou uma Jornada da Amizade, esta semana, com muitas atividades. Domingo, dia 9, houve um passeio com crianças e jovens ao Escolasticado P. Dehon, a 16 quilômetros daqui. Esperava-se umas 200 pessoas. Vieram umas 300. Viagem em caminhão.O caminhão deveria partir daqui às 9horas. Chegou às 10h. Três viagens. Imaginem quanta gente no caminhão!! A ultima foi depois do meio dia. Pediu-se que cada um(a) levasse seu lanche. A paroquia daria o refrigerante. Apenas pouquíssimas pessoas levaram algo para comer. As outras passaram o dia sem comer. o refrigerante. Aqui é assim! Passam o dia em jejum. Vão comer um pouco à noite, quando têm comida.
não me deixaram em paz, por causa da fotografia. Todos querem ser fotografados Como gostam de fotografia!
Nesse fim-de-semana, retiro para os jovens e no domingo final da Jornada, com missa, que certamente vai durar mais de 3horas e almoço solene, cujo cardápio será : arroz, feijão, sombe (folha de aipim), um pouco de carne, amendoim e talvez lituma (banana amassada). Bebida: coca-cola, água tônica, fanta. Tudo oferecido pela paróquia. O menu é sempre o mesmo nas festas.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Edição 11

Desabafo numa tarde de domingo

Kisangani já está entrando em minha vida. Não me assustam mais os sacolejos de nosso duro carro, caindo nos inúmeros buracos de nossas estradas e avenidas. Não me causam mais estupefação os inúmeros pequenos negócios ao longo dos caminhos, onde os produtos são expostos, em cima de toalhas ou plásticos, no chão, sujeitos ao sol e à poeira. Ou em cima de mesas improvisadas de bambu. Não me perturbam mais as oficinas de bicicletas e as sapatarias debaixo de árvores ; cabeleleiros em minúsculas cabanas ; produtos alimentícios misturados com poças d’água ; peixes secos e defumados cobertos de moscas ; bambus oferecidos como material de construção : bicicletas servindo de táxi ; casas caindo aos pedaços, mas ainda usadas por famílias ; capim crescendo em cima de telhado ; hospitais sem nenhum asseio, abandonados pelo poder público.

Acostumei-me aos inúmeros pedintes que batem à nossa porta, mendigando alguns trocados. Não me espanto mais com o número incalculável de homens e jovens, sentados à frente de suas casas, esperando, sem esperanças, o tempo passar. São apenas alguns dos quase 90 % de desempregados dessa cidade. Não me impressiona mais ver cemitérios ao lado da estrada, com túmulos cobertos de capim. Já me acostumei a ver mulheres carregando em cima da cabeça ou nas costas pesados fardos, bicicletas transportando mercadorias : aipim, bambus, lenha, carvão…
A cidade está entrando em mim. Mas não arranca do meu coração essa santa indignação de ver irmãos e irmãs, sofrendo tanto ; jovens e adultos, crianças e velhos, batendo na barriga vazia e pedindo dinheiro ou comida para satisfazer essa primária necessidade humana. Esses fatos diários revoltam a gente contra os fazedores das injustiças do mundo, contra os praticantes inveterados do desperdício e contra os promotores de guerras, onde o pão da vida dos pobres é transformado em bombas e metralhadoras de morte!
Quando virá, Senhor, o dia em que todas as famílias terão habitação decente , comida suficiente, saúde garantida, educação elevada?!

Vem, Senhor Jesus, renova esse mundo, com nossa ajuda e colaboração !


Pe Osnildo Klan, do Congo

Edição 10

A todos vocês, paz e bem!
Tenho algumas notícias para vocês sobre nossa vida aqui:
1° O antigo noviciado e postulado, anexos do Centro D. Grison, está sendo destruído. Em seu lugar vai erguer-se uma nova ala de nosso Centro.
2° Para a nova construçâo, nova caixa d'agua. Penso que agora não vamos mais ter falta d'água. O novo reservatório de 20 metros cúbicos está pronto; a canalização está sendo feita, sob a orientação do provincial, P. Vilson, que já construiu muitas obras aqui no Congo. Nossa propriedade aqui em SIMISIMI tem muitas fontes. Há água em abundância. O problema sempre foi a canalização e a falta de energia para conduzir o líquido até nossas torneiras.
3° Escrevi-lhes, tempos atrás que o Centro DOM GRISON recebe muitos hospedes. Não só para retiros, mas visitantes, religiosos e leigos; é também uma espécie de um hotel. Semana passada, hospedamos o vice-ministro da Adminsitração Pública da República Democrática do Congo. Passou uma semana aqui se preprando para seu casamento, que aconteceu ontém, na catedral de Kisangani, sob as bênçãos do arcebispo, D. Monsengwo.
4° Coisas simples, às vezes enchem de alegria nossa vida. Foi o que aconteceu comigo, dia 24 deste mês. Dando meu passeio pela "cité" (bairro), em determinado lugar, um garotinho saiu ao meu encontro, com os braços abertos e abraçou minhas pernas, pois tem apenas dois anos de idade. Eu o acolhi carinhosamente e com alegria. Seu pai me disse que ele gostava muito de mim. E qual não foi minha surpresa quando ele, em certo momento, pronunciou bem claramente meu nome : Osnildo. Fiquei encantado! Prometi-lhe tirar uma fotografia dele. Hoje, passando de carro pela mesma rua ele me reconheceu e veio a meu encontro, pedindo a fotografia. Como não tinha levado a máquina, voltei em casa, e fui lá dar aquela alegria a Lucien, o pequeno garoto, que sem eu saber, gostava de mim.

Minha bênção a todos. P. Osnildo

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Edição 09

Hoje, prezados(as) amigos(as), envio-lhes um resumo da corajosa declaração dos bispos congoloses a respeito da situação atual do país, que é muito instavel.
O país atravessa um momento bastante delicado, com grandes esperanças do povo, mas com a ameaça de total frustração se as promessas feitas não se concretizarem durante esse novo governo democrático. A todos vocês minha carinhosa saudação. Um abraço bem brasileiro. P. Osnildo


Voz profética dos bispos congoleses

Em sua 43a. assembléia geral desse ano, de 3 a 7 de julho, os bispos congoleses emitiram um documento « Vinho novo em odres novos », onde exprimem, com clareza,suas preocupaçôes em relaçâo ao futuro do pais e fazem veementes apelos aos atuais governantes no sentido de cumprirem o prometido nas ultimas eleiçôes, pois o povo està esperando ansiosamente a concretizaçâo dos projetos de crescimento do pais propostos, antes das eleiôes.

As preocupaçôes
Entre as preocupaçôes ,os bispos assinalam a persistência dos anti-valores que corroem a sociedade congolesa. « Nenhum pais se constroi desprezando os valores morais »(n. 9). Outra preocupaçâo : a crescente insegurança : a situaçâo atual do pais é ainda muito insegura : roubos, assaltos, prisôes arbitràrias, taxas e pedàgios excessivos sem retorno em termos de beneficio para o povo ; a crescente tensâo social provocada pela proxima exploraçâo do petroleo no Lago Alberto, em Ituri. A populaçâo nâo terà nenhum beneficio com essa exploraçâo.Tudo irà cair nas mâos de estrangeiros e invasores. Os bispos alertam ainda para o fato que as riquezas naturais do pais, como os minerais, as florestas, o petroleo em vez de contribuirem para o desenvolvimento do pais e o bem dos cidadâos, sâo causas de sua desgraça, pela ganância dos exploradores estrangeiros. E preciso rever contratos mal feitos que comprometem a soberania nacional e roubam aos trabalhadores congoleses seus direitos e sua dignidade.
Outro fato grave que preocupa os bispos sâo os assassinatos de jornalistas e de outros cidadâos ; violências essas que ficam em geral impunes.
Os bispos lembram ainda a situaçâo dos jovens, dos marginalisados e dos menores de rua. Muitos nâo vâo à escola porque nâo têm condiçôes financeiras e porque sâo obrigados a ajudar a economia familiar, trabalhando em màs condiçôes, sacrificando sua saude e sua dignidade. Os bispos apelam ao governo para que tome providências urgentes, visando socorrer as « crianças da rua e os ‘ feiticeiros ‘ que sâo uma bomba de efeito futuro, se a sociedade deles se esquecer hoje » (n. 14).
O pais vive um momento dificil, depois de vàrias guerras, que destruiram toda a infraestrutura. Principalmente, a rede rodoviària e ferroviària està em estado de miséria, para nâo dizer que realmente nâo existe mais, em muitas regiôes do pais. A saude està em coma. Os hospitais e os postos de saude nâo oferecem as minimas condiçôes de higiene e de atendimento à populaçâo.

Os apelos
Diante de tudo isso, os bispos fazem veemente apelo às autoridades constituidas no sentido que ponham em pràtica as promessas feitas antes das eleiçôes. O Congo tem que decolar, sair dessa situaçâo de marasmo e estagnaçâo. Mas, antes de tudo, é preciso restabelecer na sociedade os valores éticos, mudar a mentalidade, banir a corrupçâo e a impunidade. Para isso, mister se faz mudar a mentalidade, coisa dificil que deve passar por uma « boa educaçâo aos valores na familia, na escola, nos meios de comunicaçâo social e num ambiente moralmente sadio »( 17). Segundo os bispos , o Congo deve reconquistar sua independência, para se libertar do neo-colonialismo, que tenta controlar o poder, explorar os recursos minerais, florestais, fluviais e lacustres em prejuizo do povo congolês. Ainda na opiniâo dos bispos, um trabalho de descentralizaçâo, bem feito, pode ajudar o esforço de progresso e desenvolvimento da naçâo.
O desenvolimento desejado para o Congo deve ser solidàrio: todo povo tem direito de sentar-se à mesa do banquete e nâo ficar catando as migalhas que dali caem, como o pobre Làzaro.
Concluindo, os bispos fazem apelo a diversos segmentos da sociedade :

Ao governo
Ao governo, para que tenha a coragem politica e nâo tenha medo de enfrentar as ameaças de contratos mal feitos, de expoliaçâo do patrimonio publico, do desvio do dinheiro publico, de assassinatos, de atentados contra a integridade territorial e da soberania naconal. Pedem os bispos que o governo divulgue os resultados dos procesos sobre o massacre do Baixo Congo, do conflito de fronteira, em Kahemba e do incendio de Mbandaka ; que reforce as fronteiras nacionais para repelir prontamente invasôes.
Mister se faz colocar ordem no setor mineiro e florestal. As riquezas do pais devem ficar no pais; que os exploradores das riquezas naturais, criem industrias de transformaçâo dos produtos brutos, no pais.
Antes de aceitar novos investimentos no pais, é preciso rever os contratos mal feitos, no passado.

Ao povo
Ao povo, os bispos pedem que diga nâo à mentalidade assistencialista. O povo deve assumir a responsabilidade de seu proprio progresso e desenvolvimento. Todos devem assumir sua parte nesse desenvolvimento. E preciso assumir uma cultura do trabalho bem feito, sâo e perseverante: é preciso “banir a mentalidade do menor esforço, da mendicância e da ociosidade que se instala cada vez mais na mentalidade” do povo (n.24). Com o trabalho duro e com o suor de proprio rosto, se constroi o pais. Exortam os bispos ainda os concidadâos à pràtica dos valores como: o rigor intelectual, o amor ao trabalho manual,o pagamento dos impostos, o espirito de ordem e de disciplina, o sentido de limpesa, o respeito e a proteçâo do bem comum. (cf n. 24).

A comunidade internacional
A comunidade internacional, os bispos pedem, como jà o fez Joâo Paulo II e Bento XVI, o perdâo imediato, total e incondicional da divida externa. Pedem também que os paises ricos redusam a venda de armas, combatam o tràfico ilegal de matéria prima preciosa e a fuga de capital dos paises pobres, ajudando assim no combate à corrupçâo e à lavagem de dinheiro. (n.25)

A Monuc (Missâo da ONU no Congo)
A MONUC, os bispos solicitam que dê à populaçâo uma proteçâo efetiva. Caso contràrio, o povo começarà a duvidar da eficiência e da oportunidade de sua presença no pais.Concluindo, os bispos escrevem : «A crise de nosso pais é antes de tudo ética. O pais tem necessidade urgente de homens novos e integros. Uma mudança radical no comportamento pessoal, social e politico poderà trazer novo jeito de gerir a Republica. O novo Congo serà fundado sobre valores republicanos, morais da vida social, e sobre os valores evangélicos » (27).

sábado, 11 de agosto de 2007

Edição 08

Hoje, não envio crônica, mas apenas uma mensagem de felicitações a todos os pais do círculo de minha amizade e de meu parentesco.
No Brasil a data desse domingo é dedicada aos pais, como justa homenagem a seus esforços, lutas, sacrifícios na busca do bem-estar e felicidade de sua família. Sei que isso não é coisa fácil, num momento como esse que vivemos, onde os anti-valores se sobrepõem aos mais autênticos valores humanos e cristãos; onde os valores familiares não são mais aceitos pela sociedade, mas pelo contrário, os valores da sociedade paganizada são impostos às familias, pela força dos meios de comunicação social.
Parabenizo a você, pai, que não se deixa levar pelo vento da moda do momento, mas continua fiel aos princípios que orientam o comportamento humano e cristão!
Parabenizo você, porque não esmorece em seu empenho de construir um mundo melhor, com mais justiça e solidariedade, a começar pelo próprio lar!
Parabenizo você, porque mantém acesa a chama da esperança de que o mal não predominarà em nossa sociedade, mas que a vitória é de Cristo!
Parebenizo você, que acredita que a a vitória que vence o mundo é a nossa fé.
Parabenizo você, pai, que procura semear o amor em seu caminho, deixando atrás de si um rastro luminoso de vida e de bênçãos! Parabenizo você, que aceitou a missão de pai e procura realizá-la a exemplo de José de Nazaré.
Parabenizo você que, apesar das inúmeras dificuldades que tenha de enfrentar, sabe conservar a calma e a esperança, mantendo no lar o clima de fraternidade, de amor e de paz.
Parabenizo você simplesmente porque você é pai. E esse é um titulo de muita honra.
Que Deus o abençôe! P. Osnildo

domingo, 22 de julho de 2007

Edição 07

Meus amigos, hoje quero apresentar-lhes o nosso Centro D. Grison, em Simisime.
Trata-se de uma obra da Província Congolesa dos Padres do Sagrado C oração de Jesus, que há 110 anos está evangelizando essas terras. Nessa comunidade, estou trabalhando, embora more nas dependências da paróquia S. Gabriel. Meu trabalho ainda é muito pouco. Mas já estou fazendo algo, em termos de palestras e de retiros.
O Centro D. Grison é uma casa de retiro e de acolhida para os que procuram aprofundamento da fé, da oraçâo e de seu compromisso cristão.
A casa está dentro dos limites da paróquia São Gabriel, a 120 metros do Rio Congo , em Kisangani, RD do Congo. O prédio foi construído pelos idos de 1960. No início, foi a sede da província dehoniana congolesa ; ao mesmo tempo, funcionava como local de retiros e de reuniões dos nossos religiosos.
A partir dos anos 70, o Centro D. Grison começou a receber também outros grupos e pessoas : religiosos, religiosas, sacerdotes diocesanos, catequistas, conselheiros paroquiais, jovens etc …
No final da década de 70, o Ir.Edmond Feyen construiu no terreno da paróquia São Gabriel um internato-escola para rapazes do interior. A movimentaçâo de professores, alunos, pais em torno da escola era incompatível com as exigências de silêncio e recolhimento de uma casa de retiros. Por isso, a direção da provincia , consciente da atividade prioritária da formação espiritual do povo, decidiu transferir o internato para o centro da cidade de Kisangani. Aqui ficando somente a paroquia e a casa de retiros e encontros.
Por um período funcinou aqui o noviciado da província, que agora está em Butembo. Principalmente, nesses ultimos anos, o Centro D. Grison vem sendo procurado também por grupos « não confessionais », por causa do ambiente de silêncio, de seu bom atendimentio e pelo baixo preço das diárias.
Como casa de encontros cristãos, o Centro organiza retiros e sessões para padres, religiosos e religiosas, para movimentos e pastorais paroquiais.
Infelizmente, muitas instalações do Centro não correspondem mais plenamente às exigências atuais de um ótimo atendimento, pois estão já bastante danificadas e ultrapassadas em sua estrutura. Por isso, a província congolesa, acreditando no futuro desse país, e priorizando o estimulo à formação humana e cristã dos cidadãos, está investindo alto na construção de novas alas, com apartamentos, capela, cozinha, refeitório, sala de conferências, etc, para oferecer à sempre crescente demanda, condições físicas mais adequadas à finalidade dessa casa. Naturalmente, os recursos para essas melhorias vêm do exterior, de benfeitores, da Congregação SCJ e de outras entidades beneficentes.
Para terem uma idéia de como essa casa é procurada dou-lhes as estatisticas do ano 2006 : passaram por aqui 2.036 pessoas, a maioria, jovens (carismáticos, Jovens da Luz, Kisito e Anoalite, Escoteiros, focolarinos, Gradi Jovem, corais). Procuraram também nosso Centro, movimentos e pastorais paroquiais, como neocatecumenos, catequistas, carismáticos e mesmo grupos não confessionais : participantes da ONG dos direitos humanos ; participantes das sessões de formaçâo da MONUC (Missâo das Naçôes Unidas no Congo), médicos sem-fronteiras e outros grupos mais, confessionais e não confessionais.
Certamente a procura é grande, porque o ambiente é bom, mesmo que as instalações não sejam modernas, e o preço das diàrias também é muito acessivel, variando de um (1) a 15 dólares e até mais, dependendo do que é oferecido aos visitantes e de suas condições financeiras.
Como vêem, meus caros amigos, aqui temos um vasto e amplo campo de ação evangelizadora. Espero poder dar a essa obra minha fraca colaboraçâo e agradeço a Deus por ter essa chance de trabalhar numa atividade de que gosto.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Edição 06

Amigos e amigas do Brasil,
Saudaçôes!

Do fim do mês passado até o fim desse mês, estive e estarei ocupadissimo com retiros. Como sabem, preguei um retiro de 3 dias para os nossos propedeutas do Congo, em fins de junho. De 8 a 14 desse mês, participei de um retiro de 5 dias, juntamente com nossos fratres, que se preparavam para a renovaçâo dos votos, hoje realizada, na matriiz de São Gabriel.
De 20 a 29 de julho, vou pregar um retiro de 8 dias para as noviças, postulantes e outras irmãs da Congregação das Irmãs da Sagrada Família de Kisangani. Como vêem, não estou desocupado, nessas longínquas terras africanas. Peço que rezem, de novo, um pouco mais por mim para que seja inspirado pelo Espírito Santo, na pregação desse retiro.
Digo-lhes francamente que a preparação e a pregação desses exercícios espirituais me dão muito trabalho, por causa da lingua francesa, que ainda não domino muito bem.
Há uma série de fatos que gostaria de lhes relatar. Devo porém selecionar alguns dados para não me tornar longo demais.
Nesse começo de mês, saiu uma declaração muito incisiva e forte dos bispos do Congo, alertando as autoridades estabelecidas e o povo em geral para a situação em que vive o país. Sobre isso, penso comentar em outra oportunidade. Hoje quero contar-lhes uma história, bastante interessante que ouvi do sr . Dominique, um comerciante de Kisangani, que frequentemente vai a Duby (Dubai), na Arábia Saudita, fazer compras para seus dois negócios daqui. Normalmente quem abastece o mercado de Kisangani é a China e a Arábia Saudita, os árabes, pois, Duby é uma zona franca.
Esse senhor nos contou a seguinte história ligada à cidade de Duby :
"A rainha da Arábia Saudita, todas as noites tinha a visão de um senhor (Jesus), que lhe pedia insistentemente para lhe construir um templo digno dele. Incomodada com a constante aparição, falou com o rei, seu marido. O rei convocou seu conselho, para saber se era para construir, de fato, um templo para os cristãos. Os conselheiros se dividiram : uns diziam que sim ; outros, que não. O rei usou de seu poder decisório e determinou que se construísse um templo para os cristãos, mas a 100 quilômetros distante de Dubai. E assim foi feito. Na enorme e bonita igreja, há espaço para os católicos e também para as outras denominações cristãs. Naquele território, os católicos e outros cristãos podem manifestar, livremente, sua fé, fazer seus cultos e celebrar suas missas. Como tudo lá é bem asfaltado, a distância não é tão grande assim, disse o sr. Dominique".
Num país muçulmano, é um fato notável e singular.

Um abraço a todos. P. Osnildo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Edição 05

Meus amigos (as),
tenho muitas notícias da semana passada: retiro dos propedeutas, chegada do novo carro para o centro D. Grison (veio de Dubai, Arabia, e levou mais de três meses para chegar aqui); a historia interessante da construção de uma igreja católica em Dubai, que é muçulmano; a visita do presidente do Congo a Kisangani, com a a misteriosa queda de um avião de guerra, Mig, russo, na cabeceira do aeroporto militar, aqui perto de casa;o aniversário, bem celebrado, do diretor do Centro, P. Pontien... Mas não falarei sobre isso.
Vou apresentar-lhes duas reportagens: uma sobre o P. Mateus Buss, que veio para o Congo com o primeiro grupo de brasileiros e está aqui mais de 20 anos; a outra reportagem, sobre a situação conflituosa do leste de Congo, com a denuncia do arcebispo de Bukavu. Para sua informação, somos quatro brasileiros da Congregação dos Padres do SCJ que trabalhamos no Congo. Todos os quatro trabalhamos em Kisangani, em casas diferentes. Pedi para eles escreverem algo sobre suas atividades aqui. P. Mateus foi o primeiro a atender meu pedido. Espero que os outros também escrevam algo para o conhecimento de vocês. Não estou sozinho aqui nessa terra. Tenho mais três colegas brasileiros por perto. Envio a todos meu afetuoso e carinho abraço, bem brasileiro.

A situaçâo no Leste congolês

A situação política no Leste congolês não está clara. Vive-se a psicose de guerra, como denunicou o arcebispo de Bukavo, Dom Francisco Xavier M. Rusengo. Os elementos perturbadores são os ruandeses que se infiltram sistematicamente no territorio congolês, expulsando os habitantes da região para a floresta. É como no Brasil com as invasões de terra. Só que aqui são os ruandeses (os tutsis, no caso) que invadem as propriedades dos congoleses e os expulsam de lá , pois dizem que aquelas terras lhes pertencem. E o exército congolês, como denuncia o arcebispo, não tem forças para defender o povo. Por isso, em maio p.p., aconteceu um macabro massacre da população civil, em Walungu. Segundo Dom Francisco, os banyamulunge ( pronuncia-se "banhamulengue"), isto é, os descendentes de congoleses(as) com ruandeses(as), que habitam a região, são instrumentalizados para provocar a Guerra. Enquanto isso, as suas mulheres e filhos fogem, com medo, para o pais vizinho.
Na denúncia, o arcebispo pergunta, onde estão as autoridades federais, que silenciam diante de toda essa situação ? Textualmente, o bispo pergunta : "Que significa o silêncio das Instituições da Republica, a saber, o Chefe de Estado, o Parlamento, o Governo Central e o Alto Comando militar, diante dos massacres repetidos em Kaniola? Em outros lugares, por causa de um sequestro, mesmo de uma única pessoa, o aparato estatal de seu país se mobiliza. O Governo da Republica Democrática do Congo, diante da ameaça de uma nova guerra e enquanto se perpetram massacres da população civil, em vez de se preocupar com o verdadeiro problema que é de ordem militar e de segurança, nos propõe uma mesa redonda ‘ intercomunitária ‘ . Cumplicidade ou ignorância ?"
O bispo fala de cumplicidade, porque, na época da derrubada de Mobuto, quem veio em socorro de Kabila foram os tutsis, de Ruanda. Depois da guerra, eles ficaram no território congolês e junto com os refugiados do genocídio de Ruanda, que também, residem naquelas regiões do Leste, formam um grupo forte de terroristas, reivindincado aquelas terras para si, contra os congoleses. Ora, o atual governo que teve a ajuda dos tutsis também no caso da derrubada de Mobutu, sente-se constragido a tomar uma posição mais dura contra os tutsis, que pretendem se apossar das terras do Leste congolês. Situação bastante ambigua, complicada e perigosa. Lá vive-se constantemente a tensão de guerra. O bispo continua em suas acusações contra o silêncio das autoridades competendes, fazendo recomendações sérias à Comunidade Intenacional fortemente presente na região : que não digam depois, que não sabiam da realidade. Recomenda à MONUC ( tropas da ONU, no pais) que cumpra sua missão e não compactue com os inimigos, mas proteja, de fato, a população. Aos eleitos do povo (governo federal, regional, deputados etc) recomenda o arcebispo que façam mais pela segurança da população. Ao povo do Leste da Republica Democrática do Congo, o bispo recomenda que abra os olhos, pois o inimigo ainda está lá.
D. Francisco Xavier termina sua declaração, com um apelo à paz : "Somos vizinhos naturais dos ruandeses, burundeses e ugandeses. Somos chamados a viver juntos, na paz e na concordia nesta Sub-Regiâo, que Deus generosamente nos deu e nâo na guerra sem fim. Para que servem essas novas guerras, que apenas empobrecem nossos povos e criam inuteis inimizades ? ‘ Felizes os artesãos da paz ; eles serão chamados filhos de Deus’ (Mt 5,9). Jamais, jamais a guerra ! O mundo tem sede de paz "
Realmente a situação daquela região congolesa é bem problemática. De uma hora para outra podem entrar em guerra. Os tutsis são realmente guerreiros e fortes. Sobre eles, o bispo de Isangi, D. Camilo Lembi, nos revelou algo realmente interessante, para se entender a grande rivalidade entre tutsis e hutus, mesmo dentro do territorio congolês.
Em outra reportagem, vou dizer-lhes o que nos disse Dom Camilo.



Padre Mateus, scj, missionário

Lá pelos anos 1980 se falava em projeto missionário "ad extra" e se insistia na participação da Provincia brasileira. Com o intuito de viabilisar o projeto se designou Padre Silvino Kunz e Odilo Lewiski como exploradores da nova Terra ; se visualizava no momento o Zaire, hoje Congo.
Eu, então jovem padre, trabalhando na paróquia do Sagrado Coração de Jésus no Méier me disponibilizava como possível colaborador.
Foi assim que em 1984, partiamos os quatro primeiros apostolos da BM, em direção de Bruxellas, para o aprendizado da lingua francesa. Em Setembro do mesmo ano estavamos aqui em Kisangani para o que der e vier.
Minha primeira missão foi Babonde - Paroquia da diocése de Wamba. Aqui foi a primeira experiencia, por sinal bem amarga. A adaptação cultural não é evidente e aqui o missionário chora e desanima. Você se dà conta que não consegue fazer aquilo que faria no seu proprio país. Tudo é bem diferente e muito dificil. No entanto eu visitava as capelas do interior com alegria e ardor missionario. Na medida que aprendia a lingua Kiswahili o contato com o povo fazia-me gostar da experiencia.
Em 1986, o provincial me propunha a primeira transferência. Foi no momento em que vieram para o Congo P. Wilson, Airton e Gabriel. A Missão de Basoko recebia neste momento a ajuda de P. Airton e P. Mateus. Basoko é uma Paróquia de 100 capelas. As mais distantes se localizam a 150 Km do Centro. Naquele momento, as estradas congolesas eram jà impraticaveis. Razão pela qual a Provincia brasileira me ofereceu uma linda moto: Honda 125. Com este "cavalo" eu visitava as capelas do interior. Particularmente Mokaria, antiga paroquia, mas sem padres. Guardo saudades deste tempo em que visitava as capelas, animado do ardor apostolico paulino. Aprendi a relativisar muita coisa. O povo do interior me ensinava muito.
Em 1991 as vocações congolesas aumentavam em numero e se procurava um acompanhante para os postulantes et noviços que faziam a preparação para a vida religiosa nos Camarões... La fui eu para uma nova experiência, agora como formador. Me preparei meio ano na Europa para a nova missão. A terra que me acolheu nos Camarões foi Ndungue. Era, ao mesmo tempo, o pároco de Ndungue e acompanhava os postulantes. Là se passaram mais 6 anos de minha vida sacerdotal. Foi um vivendo e aprendendo.
Como as coisas se complicavam no Congo por causa da guerra, ficava igualmente cada vez mais dificil o envio de jovens congoleses para os Camrões. E assim se começou a pensar em fazer o postulantado no Congo.
Como conseguencia, em 1997, eu voltava para o Congo com o objetivo de conduzir nosso Postulantado. Ele funcionava em São Gabriel. Berço da Evangelização de nossa Provincia. Fiquei sendo um ano após igualmente o mestre de noviços. O trabalho feito com muito amor até o ano 2002.
Nesta ocasião, o Padre Wilson, reitor do Escolasticado Padre Dehon, partia para Butembo com o objetivo de construir nosso noviciado. Na mesma ocasião, voltava da Europa, o Padre Alberto Lingwengwe, que havia se preparado para ser o mestre de noviços.
Como padre Wilson partia, me confiaram o escolasticado, onde me encontro até hoje. No proximo ano, diga-se de passagem, com 38 estudantes de filosofia na casa. Isto vai pedir de mim coragem e dedicação, mas a certeza de que o mar está para peixe me faz lançar a rede.
P. Osnildo, saudações e um abraço.

P. Mateus

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Edição 04

Trabalho e festa

A semana que passou trabalhei muito no campo de futebol. P. Vilson Hobold, provincial do Congo, brasileiro de Santa Catarina, colocou o campo no esquadro. Depois fizemos as demarcações das áreas, pequena e grande, do círculo central, tudo conforme as regras.

Semana passada, também, celebramos a festa do Coração de Jesus. Em nossa comunidade, não houve nada de extraordinário. Durante as duas noites que antecederam a sexta-feira, fizemos a leitura e comentários da carta do superior geral e de seu conselho, para a nossa festa patronal. De resto, nada mais. No dia da festa, às 18horas, em nosso escolasticado, missa solene, com a presença dos dehonianos de Kisangani e de muitos “abês” (padres diocesanos).O vigário geral da arquidiocese, Mons.Edouard Monbile presidiu a missa, que durou duas horas. Depois da missa, um bom jantar preparado pela equipe de cozinha do P. Mateus Buss, também brasileiro. Pude comer alguma coisa diferente: salada de batata e uns pedaços de churrasco. Infelizmente, eles torram a carne aqui. Tanto o churrasco quanto os frangos vêm quase torrados. Mas a janta estava muito boa para os padrões daqui.

Um domingo cheio : 17 de junho

Liturgicamente, a festa do Coraçâo de Jesus, na igreja do Congo, se celebra no domingo seguinte. A missa em nossa paróquia de São Gabriel, presidida pelo vigário geral da arquidiocese, Monsenhor Edouard Monbile, durou “apenas” três horas e meia. Durante a missa, 22 jovens da paróquia receberam o sacramento da confirmação. Propriamente, a manhã inteira ficamos na igreja. Para mim é um pouco cansativo, pois não entendo ainda o swahili. Mas, por outro lado, tenho a oportunidade, nesses momentos, de rezar bastante, particularmente pelas pessoas que me são caras e me pedem orações.
O que prolongou a celebração foram os muitos cantos, as procissõôes, durante a missa, a palavra do celebrante e os discursos do jovem crismado, da catequista, do catequista e do proprio pároco.
Houve quatro procissões: procissâo de entrada, que leva uns quinze minutos; depois, a procissão das oferendas ,isto é, os fiéis, que vâo dar suas ofertas em dinheiro, vêm em procissão até à frente do altar e ali, numa grande cesta, depositam suas ofertas. Enquanto isto, o celebrante está sentado, esperando, e o coral canta. Terminada essa procissão, hà uma outra: os coroinhas e as dançarinas (todas crianças) vão ao fundo da igreja e, cantando e dançando, vêm, lentamente, com as ofertas, - o dinheiro da coleta, o pão e o vinho.- e oferecem esses dons ao celebrabnte. Enquanto oferecem a coleta, o pão e o vinho ao celebrante, duas crianças cantam cada uma um lindo solo de oferecimento. A ultima procissão, é na saida, que também leva bastante tempo, pois saem dançando, até a porta da igreja. E dançam lentamente. Ninguém sai da Igreja antes do padre. É interessante observar como a comunidade toda balança o corpo, num ritmo de dança, durante quase todos os cantos. E gritam também muito, principalmente na hora do Glória. Os cânticos são longos e durante o Glória, coroinhas e padre com o turíbulo, dançam em torno do altar.
Hoje houve também a oferta em espécie : trouxeram galinha, banana, folha de aipim, raiz de mandioca, muchicha, abacaxis (tamanho familia), cebolinhas e muitas outras coisas miudas. .

A tarde, houve jogo de campeonato de várzea, em nosso campo. O time de nossa « cité » jogou contra outro bairro. Verdadeira « pelada », na gíria brasileira. Bola pra cima, pra frente, pros lados, sem nenhuma técnica ou classe. Correria desenfreada ; entradas duras. Apenas um jogador tinha calçado (penso que não eram chuteiras) . Aos vinte minutos do primeiro tempo, após um chutaço pro mato, a bola nova que estavam inaugurando esvaziou. Vieram pedir-me emprestada a bola que ganhei para os coroinhas daqui. Foi a salvação do jogo. Do contrário, teria terminado ali mesmo a partida. Resultdo final 0 x 0. Foi o jogo da inauguraçâo das novas linhas demarcatorias do campo, que tanto trabalho me deram.
Um grande abraço a todos vocês. Até a próxima!
P. Osnildo.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Edição 03

A riqueza das línguas
Não posso esquecer de registrar um aspecto muito interessante e rico da vida desse povo. Aqui, no Congo, se falam vários idiomas. Nessa nossa região, predomina o francês e o swahili ; mas se fala também o lingala e o kicongo. Na missa , por exemplo, eles facilmente trocam de lingua : cantam, a maior parte do tempo, em swahili ; mas misturam cantos em lingala e mesmo em kicongo. Respondem em francês, quando o padre celebra nessa lingua. Os padres também, nas celebrações, às vezes , misturam os idiomas. Falam em swahili,vão para o francês, voltam à lingua local.
Na catedral de Kisangani, segundo me disseram, o padre na missa, fala nas três linguas : francês, lingala e swahili. Na apresentaçâo festiva de domingo passado, também as alunas do Liceu Anuarita, das Irmâs canossianas ( que estão também em Joinville), demonstravam uma facilidade incrivel em trocar de lingua, durante as apresentaçôes dos números artisticos. Faziam isso, com a maior naturalidade. Conversando com a garotada daqui sinto inveja deles em perceber como falam naturalmente o francês e o swahili e mesmo alguns, o lingala.


O ensino
Primaire (primário) : seis anos. Secondaire (secundário) : dois anos de orientaçao e mais quatro anos de cientifico ou literario. Depois vem a faculdade. Os professores ganham uma miséria : 30 para 40 dolares mensais. Os alunos devem pagar uma PRIME (mensalidade de 600 Francos congoleses, para o primàrio, e 1.300 FC para o secundàrio). O dolar está agora na base de 470 FC.
O problema maior é que os alunos nâo dispôem de cadernos, livros, lápis, borracha. Eles vivem pedindo esse material para a gente. E impossivel atender a todos.

Hospital de Referência.
Meu confrade P. Louis Marie pisou num buraco e teve uma entorse. Acabou indo para o hospital. Dia seguinte, fui visità-lo , no hospital de referência de Kisangani. Os religiosos têm uma ala especial. De especial, não tem nada. O capim quase invade a porta de entrada. Ao desembarcar do carro, o Padre Pontien, brincando, me disse : cuidado com as cobras ! Entrando, um choque : janelas quebradas, protegidas com pedaços de madeira. As camas mal arrumadas, pintura desbotada, piso de cimento puro... Mas o que mais choca é que o hospital nâo fornece comida. Os parentes e amigos do paciente tem que preparar o alimento. Por isso, em redor do hospital, as familias dos doentes cozinham as refeiçôes. Nos pequenos fogareiros, à carvâo, no châo de terra, preparam a alimentaçâo, nâo so para o doente, mas tambem para si e para os filhos, que, muitas vezes, devem permenecer também là. Aqui nâo existe dieta especial para os doentes. Comem o que a familia come : feijão, arroz, sombe, mochicha, lituma, às vezes, carne. Dei um giro pelas alas do hospital. É indescritivel. Como, de fato, esse povo sofre. Além de tudo isso, no hospital nâo há remédio, não há gaze para os curativos. Os familiares ou responsáveis devem trazer quase tudo. Não bastasse tudo isso, o acesso para o hospital é de matar qualquer paciente. É so buraco. Inacreditàvel. O governo nem está ai, e a corrupçâo, como em tantos outros paises, engole a economia do país.
Tenho pena desse povo!

Como sofre esse povo!
Um fato, que me contou o Ir. Ioss, responsàvel pela construção do novo Centro D. Grison, revela também o grande sofrimento desse povo. Buta dista uns 325 quilômetros de Kisangani. Là não há energia eletrétrica nem estradas de acesso. Um senhor, amigo desse irmão, de quando em vez, vem a Kisangani, de bicicleta, percorrendo 650 quilômetros, ida e volta, para comprar e levar para là 80 a 100 litros de querosene. Transporta tudo na bicicleta. Imaginou !

As estradas
Por falar em estradas, realmente aqui, nessa regiâo, não existem mais estradas. Para você ter uma idéia, Kisangani tem aproximadamente 900 mil habitantes. As únicas maneiras de sair daqui para ir a outra cidade, mesmo perto, é piroga, canoa, navio ou aviâo, para os trechos mais distantes. Com moto se pode ir até algum vilarejo mais proximo. Mas é muito perigoso por causa dos assaltos. Nâo é so no Rio ou São Paulo que assaltam nas estradas … Dias atràs, o secretàrio provincial, juntamente com um irmão leigo, indo de moto para Opinge, levando o dinheiro do salário dos professores daquele lugarejo e mais algum dinheiro para o velho sacerdote com mais de 80 anos, a 50 quilômetros de Kisangani foram interceptados por dois bandidos que sairam do mato e os obrigaram, com ameaça de arma e de facão, a entregar tudo o que tinham. Nossos confrades ficaram um pouco machucados, mas voltaram para casa, com vida. Para fazer a viagem de Kisangani a Kinshasa, de navio, leva-se aproximadamente 3 semanas. De aviâo, é muito caro, com piroga ou mesmo bateau (navio), é muito lento. De moto è perigoso. O melhor mesmo è ficar em casa..


Um abraço. Até a próxima vez!
P. Osnildo Klann

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Edição 02



Centro de formação D. Grison
Começo com informação sobre nosso Centro de Formação. Na verdade, é um centro muito procurado. Acolhe muita gente, embora suas acomodações não sejam muito boas. A ocupação do Centro não acontece só em fins de semana, mas também durante toda a semana. Pode acolher até 80 pessoas, de forma precária.
É preciso, antes de tudo, melhorar os espaços físicos. Atualmente o Centro oferece pouco conforto, nos quartos, nas salas de conferência, cozinha, refeitório, capela e outros lugares de encontros. Graças a Deus, a província congolesa está investindo bastante, construindo muitas novas alas, para substituir os antigos e pouco higiênicos ambientes que temos, agora.
Os trabalhos de construção se desenrolam lentamente. Um grande número de operários executa a obra. Mas ainda de modo primitivo. Para escavar a terra ainda é com picareta, pá e para carregar, o carrinho de mão. Estava observando: uma pequena elevação que era preciso tirar e que um trator faria em meia hora, se tanto, há alguns dias, dezenas de operários trabalham e não terminaram ainda.
OS operários trabalham das 7h30m até às 14h30m. Depois vão embora. Geralmente ficam sentados à frente da casa, batendo papo. Muitos se encontram debaixo de uma árvore ou debaixo de bambus à beira do caminho tomando seus traguinhos.

Os pequenos negócios
Como há muita falta de emprego, porque não existe indústria, cada um vira-se como pode. (EM Kisangani, há 80% ou mais de desempregados) Por isso, os inúmeros pequenos negócios ao longo dos caminhos, em feiras improvisadas com barraquinhas de bambu ou mesmo com as mercadorias expostas no chão ao lado de água estagnada,poeira e outros detritos mais. A maioria absoluta das pessoas que vendem, negociam são mulheres. São elas também que levam sobre a cabeça os mais diferentes objetos, desde lenha até folhas de aipim, muchicha, ou mesmo a raiz de aipim. Não vi até agora, nenhum homem carregar na cabeça mercadorias.
Ao lado do carvão, no chão, tomates pequenos; mais além, peixe seco, bem torrado, preto, em abundância; óleo de palmeira, maços de cigarro, com um ou alguns cigarros dentro para a venda; algumas peças de roupa, para crianças. Muita lenha; gasolina, vendida em garrafas. Os produtos mais em evidência: lenha, carvão, peixe, mandioca (folha ou raiz) e também material de construção, isto é, bambu, para fazer a estrutura da casa e palha, para cobrir. Os bambus são revestidos de barro.


Toleka
Uma coisa muito original são as bicicletas-táxi. Como existem poucos carros (somente autoridades, a ONU- soldados da ONU estão em todas as partes - , padres, religiosas, alguns negociantes possuem carros.), o meio de transporte é a bicicleta e a moto, que servem de táxi. Dois pequenos ônibus fazem também o transporte de pessoas para o nosso bairro do SIMISIMI.
No entanto, penso que a maioria das pessoas, por não ter dinheiro nem para o toleka nem para o ônibus vai e vem a pé. As ruas de Kisangani parecem um formigueiro de tanta gente andando para cá e para lá. O povo não fica em casa. Vai para as ruas caminhar.

As casas
Como já informei, grande parte das casas são de bambu com barro. No centro da cidade, as casas são de material, do tempo dos belgas, mas mal conservadas: sem pintura, telhado caindo, janelas fechadas com panos ou mesmo bambu, reboco em péssimo estado; no telhado, muitas vezes, capim crescendo. O problema é que não existe aqui muito material para reformar e se existe, o preço é alto demais para as condições dessa gente. Por isso, vão deixando as casas se deteriorarem sem se preocupar com as reformas. Ficam lá até que for possível. Imaginem uma casa de 40 ou mais anos sem nenhuma reforma....
Aliás, a casa é apenas para dormir. As outras coisas fazem tudo fora. Às vezes à tarde, faço um passeio de moto para treinar. Vejo o pessoal na frente da casa, sentado, conversando, e as crianças brincando, na rua, pois na casa mesmo não há lugar para se ficar. Só para dormir. Agora estão surgindo já algumas casas de material e algumas residências bonitas. Penso que a mentalidade está mudando.

As ruas
As ruas de Kisangani são lamentáveis. Hà anos ou talvez mesmo nunca viram um trator, uma patrola. Aliás, não vi nenhum trator, na cidade. Ah! Se o Renato Zucco estivesse por aqui! Não há nenhuma rua boa, sem buraco. Vi como arrumam as ruas no centro, onde há asfalto em péssimo estado : nos buracos colocam terra. Só.

Nosso menu
Nossa cozinha não prima pelo asseio. O fogão é triste de se ver. Penso que seja um dos primeiros daqui. Como estão acostumados a cozinhar fora, também aqui, algumas comidas maman Francisca faz fora. O cardápio é pouco variado: arroz, todo dia; feijão, às vezes; sombe (folha de apim), diariamente, (a raiz de aipim ainda não comi aqui, a não ser no lituma- isto é, banana e aipim amassados juntos) ; faz parte do menu também o fufu (pirão de mandioca e polenta); carne de gado, raramente; galinha e fígado constantemente. Mas a galinha vem quase torrada Peixe não falta. De uns tempos para cá, como sabem que eu gosto bastante, está vindo sopa, bem feita, e espagueti. Vem também muchicha, uma leguminosa, boa, por sinal. Não falta o molho. Faz parte também do cardápio, banana frita. Uma banana especial, grande e dura. Para tomar, água em abundância, e também refrigerantes, água tônica, que me faz muito bem, por causa da malária. Quem desejar também pode tomar cerveja.Há só uma marca : Primus. Não todo dia, naturalmente. Também tem vindo, algumas vezes, couve. Como sobremesa, há sempre banana, abacate, muitas vezes abacaxi, e freqüentemente, salada de frutas, que eles chamam de “macédonie”. É claro que a maneira de preparar esses alimentos não é sempre como no Brasil. Mas não posso me queixar da alimentação.
De manhã, café, leite em pó, pão, margarina, queijo, ovos cozidos às vezes, geléia. Açúcar mascavo. O pão é comprado uma vez na semana.É mantido na geladeira. E mesmo assim é bom!!! Na verdade não posso me queixar da comida. Estou comendo bem. Nem emagreci, como queria! À noite, nós esquentamos a comida que sobrou ao meio-dia.
Esse cardápio não é do povo em geral. Em outra oportunidade vou informar-lhes como comem os nossos irmãos congoleses.
Nossa cozinheira, Maman Francisca vem sempre bem vestida. Parece que vai para uma festa. Vestido longo. Cada dia um pagne diferente, fartamente colorido. Por cima, coloca um avental azul e assim ela trabalha. Aos domingos é o Paul que faz nossa comida. Ele cozinha bem também.


Maman e papá
Os homens são chamados de “papá ” e as mulheres de “maman”. No começo, pensei que se tratasse realmente do pai ou da mãe de algum padre daqui. Por fim, conclui que todo mundo aqui é “papá ” e “maman”. As mulheres sempre de vestido longo e por cima o pagne ( um tecido que elas envolvem aos rins e vai até o calcanhar). E os homens sempre de calça comprida. Até hoje não vi homem de bermuda nem de calção, apesar do calor. Nem se pode imaginar aqui o padre de bermuda!
Desculpe pela longa reportagem. Há outras informações ainda que vou enviar-lhes. Não quero cansá-los nem aborrecê-los com tantas palavras! Apesar de tudo, é preciso sublinhar que o povo congolês é um povo que sofre, sim, mas não vive triste.É um povo que canta e dança. Alguém me perguntou dias atrás, através de e-mail, a respeito de um artigo saído numa revista brasileira sobre os feiticeiros e feiticeiras daqui. Infelizmente essa é a realidade. Não é fácil mudar alguns anti-valores de certas culturas.
P. Osnildo Klann

segunda-feira, 26 de março de 2007

Edição 01


Prezados amigos e amigas, meus confrades, alguns estão preocupados com os distúrbios políticos ocorridos, semana passada na capital do Congo. Felizmente nada aconteceu aqui, em Kisangani. Estamos em paz.Dia 22 p.p. tive meu batismo congolês: peguei uma forte malária. Até hoje ainda estou fraco. Mas estou melhorando com os medicamentos que estou tomando.


Uma festa singular

À tarde de sabado, senti-me um pouco melhor e fui com o P.Pontien à rdenaçãodiaconal de um candidato da Congregação Montfortiana. As cerimônias começaram às 16 horas, na catedral, com igreja quase vazia. No final da missa estava cheia.Tudo em swahili. A celebração terminou às 19horas. Das três horas de celebração uma hora ao menos, foi tomada pelos cânticos. Cantam muito durante as missas.Depois da missa, houve uma festa, no prédio da pastoral da juventude. Prédio grande.
(...) Estou contente por estar aqui (...).

Um abraço a todos vocês.


P. Osnildo (por e-mail)

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