Pe Osnildo Carlos Klann, scj

Desde 2007, o padre Osnildo realiza sua missão dehoniana na República Democrática do Congo e, através de reflexões, notícias e informações, partilha suas experiências missionárias.

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Wittelbols

Volto para a casa Wittelbols, em Kisangani, onde já estive por 3 meses substituindo o P. Joaquim Tomba, durante suas férias, em 2007. Fico aqui até fins de agosto, para acompanhar as Irmãs da Sagrada Família de Kisangani, no capitulo geral delas. Depois, parto definitivamente para Butembo, no leste congolês.
Nesses poucos dias que aqui estou, muita movimentação nessa casa. Estamos em período de fim-de-ano: férias, retiros, ordenações sacerdotais etc. Gente que vem, gente que vai...

Os doentes

Além de tudo isso, nossa comunidade teve de cuidar de dois doentes, : um caso de braço quebrado e outro de inflamação urinária. E cuidar de doente, significa, além de um acompanhante, levar três vezes ao dia, a alimentação, a água, e tudo mais de que o doente precisa, pois o hospital oferece apenas o quarto, a cama, o médico e enfermeiros.
O confrade de braço quebrado já estava no hospital , - Clinica Universitária de Kisangani - mais de 15 dias. Dia 20 deste mês, quando fui buscá-lo, o médico me chamou para dizer que ele deveria ficar ali alguns dias ainda, para se curar bem, pois havia perigo de infecção de um ponto que não estava bem cicatrizado. O que não era verdade. Disse-lhe que seria menos perigoso ele sair daqui e continuar o tratamento em casa, pois o perigo de infecção aqui, na sujeira do hospital, era bem maior que lá em casa. Além disso, disse-lhe , em geral uma simples fratura do braço não exige longo tempo de internação. E o nosso doente já estava lá mais de 15 dias, recebendo pouca atenção. Em outros países, disse-lhe, esses casos de fratura, são tratados em casa mesmo. E ele me respondeu: “não é a verdadeira medicina”. Fiquei indignado com tal orgulhosa resposta, como se aqui se praticasse a verdadeira medicina e não lá fora. Repeti a acusação da sujeira do hospital que nem sanitários dignos, nem água corrente possui Como pode praticar a verdadeira medicina??
Ele quis que assinasse um termo de responsabilidade. Não o fiz e o desanimado colega teve de amargurar mais alguns dias, naquele quarto escuro, sem água corrente, sem lavabo, sem limpeza, quarto que dá passagem a outro quarto adjacente de doente. Quando fui visitá-lo novamente, vi que a cicatriz da operação estava já completamente sanada. Nenhuma inflamação. Eles retém os doentes no hospital para ganhar um pouco mais de dinheiro.
Finalmente nosso doente da Clinica universitária de Kisangani recebeu alta, após 20 dias de internação. O braço estava já bem cicatrizado. Mas eles ainda fizeram nova aplicação de gesso.
No mesmo dia o Frederic, que teve inflamação urinária, recebeu alta da clinica Stenley. O caso desse jovem é interessante. Segunda-feira de madrugada começou a sentir dores agudas no baixo ventre, à esquerda. Dores insuportáveis. Vieram me chamar. Bateram à minha porta. Quase derrubaram-na. Os cachorros, com todo o movimento da casa, latiam sem cessar. E eu nem sinal de acordar. Dormia tranquilamente. Um diácono visitante levou o doente para a clinica... De manhã, me contaram a história. Fiquei com vergonha, mas não posso fazer nada se durmo bem e tranqüilo.
Agora, todo mundo está em casa. Assim o vai- e -vem aos dois hospitais terminou.




A sopa

Estava com vontade de tomar uma sopa. Nessa comunidade não se costuma fazer sopa. Expliquei para o propedeuta “cozinheiro” como deveria fazer. Eu também não sou lá bom cozinheiro. Mas dei-lhe as explicações necessárias. Os ingredientes eram poucos: macarrão, cebola, tomate, salsinha...

Deixei-o na cozinha e fui fazer a exposição do Santíssimo Sacramento, com adoração e recitação das vésperas do dia. Quando tudo terminou, corri para a cozinha, pois me lembrei dos pratos fundos e das colheres para a sopa. Não os encontrei. Perguntei ao “cozinheiro”:
- Onde estão as colheres e os pratos? Ele me olhou espantado:
- Por quê?
- Para tomar a sopa, oras!!
- Não sei, respondeu ele.
- Onde está a sopa? – perguntei.

Ele me mostrou a tigela que estava em cima da mesa: spaghetti ao molho de tomate. A sopa para eles era isso ali. Enfim, apesar da troca, foi um bom jantar.

Kisangani, 25 de julho de 2009.

P. Osnildo Carlos Klann, scj

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